A oferecer indemnizações de cerca de oito euros por pessoa, a Tokyo Eletric Power Company (Tepco), empresa responsável pela central nuclear de Fukushima, no Japão, irritou os moradores que tiveram de ser evacuados e decidiram rejeitar o dinheiro.
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Obrigados a sair de casa e confrontados com a probabilidade de virem a desenvolver graves problemas de saúde, os 20 mil moradores que viviam nas imediações da central de Fukushima tiveram uma oferta global de indemnização, por parte da Tepco, de 167 mil euros. Contas feitas, dá oito euros a cada um. O montante irritou os japoneses, que o rejeitaram.
Um porta-voz da cidade de Namie declarou que a oferta da Tepco foi rejeitada, o que permite à população criticar livremente a sociedade. "A população local supera os 20 mil habitantes, o que faria com que cada residente recebesse cerca de oito euros. Isso não ajuda os flagelados", argumentou.
Cerca de 80 mil pessoas residentes num perímetro de 20 km de Fukushima, central danificada pelo terremoto e tsunami de 11 de Março, foram obrigadas a abandonar a região. Outras 130 mil vivem a dez quilómetros de distância dessa área e não é seguro que não venham também a ter de abandonar o local.
E muitos agricultores da província tiveram que suspender a comercialização de legumes e de leite devido ao índice elevado de radioactividade após o desastre nuclear.
Neste cenário, o ministro da Indústria japonês, Banri Kaieda, também já reagiu à oferta de Tepco, sublinhando que deverá rever os montantes a pagar às populações mais atingidas.
De acordo com a agência de notícias Kyodo, deverá ser a sociedade em conjunto com o governo a calcular a compensação a atribuir às empresas, agricultores e pescadores prejudicados pelo acidente.
Recorde-se que, inicialmente, o Banco de Investimento Merrill Lynch estimou em 92,2 mil milhões de euros o valor que a Tepco teria que desembolsar em indemnizações. E acrescentou que a única forma de controlar os custos seria resolver rapidamente o problema. Mas à medida que os dias avançam, 25 desde o desastre, mais a solução está longe do fim.
Ontem, um dia depois de ter começado a lançar ao mar 11500 toneladas de água com um nível de radioactividade 100 mil vezes superior ao limite legal, a Tepco admitiu que o nível de iodo radioactivo nas águas marinhas próximas da central é cinco milhões de vezes superior ao limite legal e o nível de césio-137 nas águas do mar próximas da central é 1,1 milhões de vezes superior ao limite legal.
Se o iodo-131 tem uma vida média relativamente breve, oito dias, já o período de semi-desintegração do césio-137 é de 30 anos.
O Japão decidiu estender ao consumo de peixe as restrições já impostas aos vegetais. Mas o problema não é só japonês.
Alguns especialistas defendem que a presença de césio é uma ameaça a longo prazo e na pesca mundial, com influência nefasta na cadeia alimentar. Atum e peixe espada são as espécies mais ameaçadas por acumularem radioactividade.