O presidente da República de Angola, João Lourenço, avisou que não é possível dispensar a justiça no combate à corrupção e que vai continuar esta luta apesar da "resistência organizada" que tem encontrado.
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"É evidente que a perda repentina dos direitos abismais que alguns pensam ser um direito divino inquestionável, tinha de criar resistência organizada na tentativa de fazer refrear o ímpeto das medidas em curso", declarou o presidente no seu discurso de abertura da III Reunião ordinária do Comité Central do MPLA.
Se deixássemos a festa continuar talvez viessem morrer de congestão
Sem citar nomes, falou de pessoas que tiveram "uma ambição desmedida, mas que deviam, pelo contrário, agradecer a ação do executivo. "Se deixássemos a festa continuar talvez viessem morrer de congestão de tanto comer", iroizou.
Reforçou que foi o MPLA, partido do poder, que "teve coragem de encabeçar a luta contra estes fenómenos negativos e condenáveis" ao reconhecer os danos causados pela corrupção e nepotismo à economia e aos cidadãos, mas acrescentou que esta luta já não é só do MPLA e da oposição, e sim de toda a sociedade angolana
Uma luta que, continuou, "penalizará aqueles que dela desistirem ou pretenderem regressar ao passado".
O combate à corrupção que João Lourenço elegeu como bandeira do seu mandato presidencial tem merecido elogios da comunidade internacional, mas também suscitado algumas vozes críticas que acusam o executivo de ser seletivo elegendo como alvos, os familiares e próximos do ex-presidente José Eduardo dos Santos.
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A filha mais velha, Isabel dos Santos, é atualmente arguida num processo-crime devido à sua gestão na petrolífera estatal Sonangol e viu igualmente a justiça arrestar os seus bens e participações sociais num processo em que o Estado reclama mil milhões de dólares.
No discurso desta sexta-feira, João Lourenço fez questão de sublinhar que é a sociedade angolana que exige a continuação desta luta "pelos ganhos morais, de reputação e económicos" que o país beneficiará.
Deixou também recado às "vozes discordantes" da forma como a luta vem sendo desenvolvida, nomeadamente pessoas e instituições que julgam que é possível combater a corrupção com campanhas de educação e sensibilização e apelo ao patriotismo, dispensando a ação da justiça.
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Todas essas ações são importantes e necessárias, mas "servem para educar e prevenir os cidadãos para não enveredar por caminhos errados", já que sendo a corrupção um crime, para quem nela está envolvido, "não há forma de se evitar a intervenção dos órgãos de justiça", salientou João Lourenço.
Assinalou ainda que o Estado foi "benevolente e magnânimo" ao dar um período de graça de seis meses, quase equivalente a uma amnistia, para quem quisesse repatriar voluntariamente os capitais no exterior ou os bens ilicitamente adquiridos no país.
"A anterior situação beneficiou muita gente de dentro e de fora que obviamente não está satisfeita com o atual quadro e, por isso, luta com todas as forças para ver se ainda possível voltar a reinar no paraíso e usam todos os meios para descredibilizar o processo em curso", acusou o chefe do executivo angolano.
Garantiu ainda que vai manter a postura e coragem política face ao fenómeno da corrupção, pois assim "o partido sairá mais forte" e em melhores condições de enfrentar os desafios que tem pela frente.
João Lourenço concluiu o discurso parabenizando a mudança de lideranças em alguns partidos com assento parlamentar , afirmando a vontade de manter um diálogo construtivo e relações salutares de amizade e de trabalho com os novos líderes.