João passou por tropas russas e ucranianas em 27 horas de viagem até lugar seguro
Jovem português está instalado num hotel da Roménia, depois de uma fuga que se estendeu por 27 horas. Cruzou-se com coluna militar russa e vários militares ucranianos
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Depois de três dias a ouvir explosões, uma viagem de 27 horas de autocarro e três países percorridos, João Moreira chegou a um lugar seguro. Uma segurança, porém, que não cala a revolta por ver um povo a lutar sozinho contra um agressor mais forte. "Parte de mim ficou na Ucrânia, pelas pessoas que conhecia e por aquilo que os ucranianos estão a passar. Um tubarão está a atacar um pequeno peixe, que não tem ajuda de ninguém", critica.
Quando falou com o JN, João, economista de Paredes, já estava instalado num hotel na cidade de Botosani, na Roménia, e a poucos quilómetros da fronteira com a Moldávia. Chegou ali ao início da tarde de sábado, integrado numa comitiva de 14 pessoas que, 27 horas antes, fugiu a toda a pressa da Embaixada de Portugal em Kiev. "Foi uma viagem dura. Chegámos a sair do autocarro para procurarmos um abrigo, mas, com as sirenes a tocar, só encontrámos uns barracos. Decidimos continuar viagem", conta.
Quilómetros à frente, numa estrada estreita, João e os colegas perceberam a razão do toque de alarme. Uma coluna militar do Exército russo vinha na sua direção e da localidade que tinha acabado de deixar para trás. "Eram camiões com material. Não sei se eram armas, comida ou outro tipo de abastecimento. Não nos mandaram parar e seguimos viagem", descreve. Durante o percurso, mas longe daquele lugar, também observou ucranianos de uniforme preparados para uma guerra que, no entanto, ainda não tinha ido ao seu encontro.
Fila de espera para atravessar a fronteira
Embora tenha efetuado poucas e pequenas paragens para comer e idas à casa de banho, o miniautocarro que transportava João, a colega Beatriz, um português com a família e outros cidadãos não portugueses demorou a chegar à linha que separa a Ucrânia da Moldávia. "Eram 11 horas da manhã. Tínhamos um diplomata à espera, mas mesmo assim tivemos de esperar três horas para atravessar a fronteira. Havia 45 carros à nossa frente", recorda.
Já do lado romeno e dentro de um autocarro de 50 lugares, João rapidamente rumou ao hotel, que acolheu os portugueses que, nos últimos dias, foram obrigados a abandonar a Ucrânia. "Também está cá o embaixador de Portugal em Kiev. Somos 30 pessoas e nem todas são portuguesas", confirma.
Sem hora para regressar a casa
Sem tomar banho e mudar de roupa há três dias, o jovem de 26 anos estava ansioso por ir comprar produtos de higiene pessoal e algumas peças de vestuário limpas. Alimentos não precisava, porque a diplomacia portuguesa garantiu que nada lhe faltaria enquanto não chegasse a casa.
Um acontecimento que, na tarde de ontem, não tinha hora, nem plano marcado. "Ainda não nos disseram como é que vamos regressar a Portugal. Acho que ainda estão a decidir se vamos viajar num avião comercial ou num voo fretado", refere.
De uma ou de outra forma, uma coisa é certa. João vem com a certeza de que a Ucrânia está a ser destruída.