A jornalista italiana Cecilia Sala, que trabalha para o jornal "Il Foglio" e para a empresa de podcast Chora Media, está detida no Irão há mais de uma semana, denunciou, esta sexta-feira, o Ministério dos Negócios Estrangeiros de Itália.
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Cecilia Sala, de 29 anos, viajou de Roma para o Irão em 12 de dezembro com um visto de jornalista válido e realizou várias entrevistas, produzindo três episódios do podcast "Stories". Sala deveria regressar a Roma em 20 de dezembro mas ficou incontactável depois de ter trocado algumas mensagens um dia antes, de acordo com a emissora britânica BBC.
Segundo o governo italiano, o caso de Sala está a ser acompanhado com a "máxima atenção" desde que foi detida pela polícia de Teerão, capital iraniana, em 19 de dezembro.
Cecilia Sala "está bem de saúde. Veremos quais são as acusações", adiantou o ministro dos Negócios Estrangeiros italiano, António Tajani, remetendo mais novidades para os próximos dias. "Agora o importante é que esteja bem, está detida numa situação calma, sozinha numa cela", acrescentou.
Segundo o ministro da Defesa, Guido Crosetto, todos os caminhos estão a ser explorados para libertar Sala que, segundo o editor do podcast da Chora Media, Mario Calabresi, é uma "apaixonada pelas lutas das mulheres iranianas".
A embaixadora de Roma em Teerão, Paola Amadei, visitou a jornalista para verificar as condições em que estava a ser mantida. Além disso, Sala foi autorizada a fazer duas chamadas telefónicas para a família.
Por sua vez, num comunicado separado, a Chora Media denunciou que a decisão de prender Sala não foi justificada pelas autoridades iranianas.
Já o jornal "Il Foglio" pediu a libertação de Sala, dizendo que "jornalismo não é crime". "Cecilia estava no Irão, com um visto regular, para informar sobre um país que ela conhece e ama, um país em que a informação é sufocada pela repressão", escreveu o jornal, em comunicado.
Nascida em 1995, em Roma, Sala trabalhou em redações e como jornalista freelancer, lidando sobretudo com assuntos de política internacional. Entre 2014 e 2018, frequentou a faculdade de Economia da Universidade Luigi Bocconi de Milão, onde interrompeu os estudos quando lhe faltava fazer seis exames para obter o diploma. Em 2015, começou a colaborar como correspondente e repórter na" Vice News" e, mais tarde, a trabalhar com jornalista e apresentadora de talk shows políticos e no programa "Servizio Pubblico" da estação independente LA7, onde se tornou jornalista profissional. Ao longo dos anos, colaborou com a "Vanity Fair", o "L'Espresso", "Rai" e a "Will Media", e trabalhou na equipa editorial do talk show político do horário nobre "Otto e Mezzo". Em novembro de 2019 integrou a equipa editorial do "Il Foglio" e, no ano seguinte, começou a ser emitido, pelo "Huffington Post", o seu podcast "Polvere", sobre o assassinato de Marta Russo, uma estudante de 22 anos da Faculdade de Direito da Universidade Sapienza de Roma, que foi baleada e morta nas instalações da universidade, a 9 de maio de 1997.
A 10 de janeiro de 2022, Sala tornou-se autora e voz do podcast "Stories", publicado pela Chora Media, que conta diariamente histórias de todo o Mundo. Sala cobre extensivamente histórias sobre o Irão, tendo lançado recentemente um episódio do seu podcast, no qual entrevistou Zeinab Musavi, uma comediante de standup iraniana que falou contra o uso obrigatório do hijab nos seus vídeos. Musavi foi detida no início do ano, mas foi entretanto libertada.
A detenção de Sala surge depois da prisão em Itália de um cidadão iraniano acusado de fornecer componentes de drones ao Irão, de acordo com o Ministério dos Negócios Estrangeiros iraniano, que criticou a detenção.
Teerão tem um longo histórico de diplomacia de reféns, na qual prende ocidentais para trocá-los por oficiais detidos na Europa por espionagem, terrorismo ou violações de direitos humanos.