Jornalista angolano Rafael Marques sem esperança sobre qualquer apoio de Portugal
O jornalista angolano Rafael Marques disse esta segunda-feira à Lusa que não espera qualquer ajuda do Governo português, referindo-se ao apelo e à petição que a Amnistia Internacional lançou sobre o seu julgamento, que começa na terça-feira em Luanda.
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"É uma iniciativa da secção portuguesa da Amnistia Internacional que muito agradeço, mas todos sabemos qual é o papel do Governo português sobre Angola. É de total harmonia com os interesses corruptos e autoritários deste regime", disse à Lusa Rafael Marques, que começa a ser julgado na terça-feira, no Tribunal Provincial de Luanda.
O jornalista e ativista angolano foi acusado de "denúncia caluniosa", por ter exposto no livro "Diamantes de Sangue" alegados abusos contra os direitos humanos na região diamantífera da Lunda-Norte, em Angola.
Os queixosos são sete generais, liderados pelo ministro de Estado e chefe da Casa de Segurança do Presidente da República, general Manuel Hélder Vieira Dias Júnior, conhecido como 'Kopelipa', e os representantes de duas empresas diamantíferas.
A secção portuguesa da Amnistia Internacional lançou uma petição em que apela ao Governo português para interceder junto do executivo de Luanda para que seja retirada a acusação contra o jornalista angolano Rafael Marques.
"Ajude-nos a apelar ao primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, e ao ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Rui Machete, que encorajem o Governo de Angola a retirar a acusação contra Rafael Marques", refere a petição divulgada através da página oficial da Amnistia Internacional na internet.
A organização considera que o também ativista está a ser alvo de perseguição "por exercer o seu direito à liberdade de expressão protegido pelo direito internacional", acrescenta a Amnistia Internacional.
"Rafael Marques tem sido repetidamente perseguido por responsáveis do Governo de Angola, e está agora a ser alvo de acusação pelo simples exercício do seu direito à liberdade de expressão, reconhecido e garantido pela Declaração Universal dos Direitos Humanos, e pelos Artigos 40 e 44 da Constituição de Angola, assim como por outros instrumentos jurídicos dos quais Angola é signatária, incluindo a Carta Africana dos Direitos Humanos e dos Povos e o Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos", diz o texto da petição.
Entretanto, o livro "Diamantes de Sangue" vai ficar hoje disponível na Internet, em solidariedade com o autor, disse à Lusa a responsável pela editora.
"Desta forma, os angolanos - que não têm acesso ao livro - podem consultá-lo gratuitamente a partir de hoje", disse à Lusa, Bárbara Bulhosa, da editora Tinta da China.