Numa sessão plenária marcada pela guerra na Ucrânia, o JN está a entrevistar eurodeputados portugueses sobre as exigências e as consequências do conflito militar no futuro da União Europeia. José Manuel Fernandes, chefe de delegação do PSD no Parlamento Europeu, defende que a autonomia energética e a alimentar devem ser prioritárias.
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Qual deve ser o papel e a intervenção do Parlamento Europeu perante a guerra na Ucrânia?
O Orçamento da União Europeia tem cerca de 10 mil milhões de euros em ajuda humanitária e 11 mil milhões de euros no apoio aos refugiados. Mas, se forem necessários mais recursos, serão colocados. Há muito dinheiro, milhares de milhões de euros que não foram utilizados no âmbito da política de coesão 2014-2020, e que podem ser usados na reinserção, nas qualificações e no emprego dos refugiados. Além disso, é necessária a defesa dos cidadãos europeus, nomeadamente a proteção na escalada de preços da energia. A médio prazo, há uma questão que devia já estar resolvida: neste momento, a UE financia a compra de armas a Putin. É essencial não dependermos da Rússia do ponto de vista energético. Também precisamos de autonomia estratégica na alimentação. O dinheiro do mecanismo de recuperação e resiliência, como os empréstimos que não foram usados, podem ser reorientados para estes objetivos.
Quais os desafios para a União Europeia a médio e a longo prazo?
Nada será como dantes. Os sinais estavam lá todos. Putin não respeitou o memorando de Budapeste, quando a Ucrânia entregou as armas nucleares. Ele comprometeu-se a respeitar a integridade territorial. Estou convencido de que avançará sobre a Moldávia. O reforço da NATO tem de ser uma prioridade, assim como a capacidade de defesa da União Europeia. Caso Trump estivesse à frente dos Estados Unidos, teria sido um desastre. A reconstrução da Ucrânia vai ser outro objetivo. A guerra de Putin trouxe a união da Europa. Percebeu-se que a NATO é essencial. Caso contrário, Putin teria entrado na UE sem qualquer dificuldade.
Como fica a relação da UE com a NATO?
Sai reforçada. Na Finlândia já se discute a adesão à NATO. Era impensável e vão fazer um referendo. A Suécia também coloca a possibilidade. Países como a Suíça quebraram a neutralidade. A Alemanha vai investir 100 mil milhões de euros na defesa, cerca de 2% do PIB por ano. Há uma mudança. Finalmente percebeu-se que não basta ser gigante do ponto de vista económico. O regime russo sente-se completamente inferiorizado em relação à União Europeia. Com os objetivos que Putin tem, é necessário a UE ser capaz de se defender.
O que considera dos recentes pedidos de adesão à União Europeia de países como a Ucrânia, a Geórgia e a Moldávia?
É um bom sinal. É um processo moroso. A Croácia pediu a adesão em 2003 e só entrou em 2013. A Turquia já pediu a adesão e recebe um instrumento que tem muitos recursos financeiros. O que ajuda à estabilidade dos países, ao reforço das suas instituições e a que os princípios europeus sejam completamente respeitados. É evidente que a potencial adesão da Ucrânia à UE muda alguns equilíbrios. São 44 milhões de pessoas. Mas, ficamos todos a perceber qual o preço da instabilidade na Europa. Portanto, é mais "caro" se a instabilidade continuar.