Jovens que sufocaram educadora espanhola até à morte têm histórico de delinquência

Belén Cortés foi estrangulada com um cinto até à morte
Foto: Facebook
Bélen Cortés, de 35 anos, morreu no domingo às mãos de três menores institucionalizados, em Badajoz. O caso que chocou o país leva os educadores a exigirem mais segurança nos centros educativos. Os suspeitos do homicídio, com longo histórico de delinquência, vão ficar internados em regime fechado.
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Esta terça-feira, a comunidade de Castuera, em Badajoz, cumpriu um minuto de silêncio em memória de Belén, a assistente social que foi sufocada até à morte com um cinto por três menores num apartamento sob tutela do Estado. No segundo dia de luto oficial, as bandeiras foram colocadas a meia haste e uma centena de pessoas reuniu-se para prestar homenagem. “É uma dor tremenda, eles mataram a minha filha”, partilhou o pai da vítima à imprensa espanhola.
Belén já tinha denunciado um dos jovens suspeitos por supostas ameaças dentro do próprio centro educativo onde os menores estavam a viver. Tinha 35 anos e era a única operacional ao serviço na noite do crime. É descrita como uma jovem trabalhadora e alegre, que não tinha filhos, mas tinha um companheiro. “Era uma jovem muito querida na vizinhança e não é justo que lhe tivessem tirado a vida de uma forma tão cruel, enquanto trabalhava”, afirmou María José, moradora de Castuera.
Os colegas da instituição realizaram um protesto à porta do centro de acolhimento Marcelo Nessi, em Badajoz, horas depois do homicídio violento. “Há quinze dias que vivemos uma situação muito difícil, com alguns roubos e fugas”, partilharam, na segunda-feira, alguns desses trabalhadores.
Histórico de delinquência
Antes do homicídio, dois dos três menores estiveram em fuga durante sete dias, período em que protagonizaram um assalto a uma cafetaria. O roubo ocorreu enquanto os dois jovens estavam hospedados na casa da mãe de um deles, que foi acusada de disponibilizar droga aos adolescentes. Este assalto ajudou as autoridades a descobrirem o paradeiro dos suspeitos.
Antes da fuga, estes dois suspeitos tinham roubado a carteira, as chaves da moradia e os cartões a Belén Cortez. Alicia Fernández, amiga da vítima, acredita que os autores do roubo eram “os menores que estavam desaparecidos naquele momento”. Segundo Alicia, que já tinha alertado Bélen para o perigo iminente a que se submetia no trabalho, “um deles já tinha cometido vários crimes”.
No grupo suspeito do homicídio está um jovem de 15 anos, J.J.G., com um longo percurso criminal, que já esteve envolvido em mais de 50 assaltos a estabelecimentos e carros. Num único fim de semana cometeu 37 crimes e fugiu várias vezes à polícia de carro, sem ter carta de condução. Estava internado há pouco mais de um mês, depois de ter ameaçado agredir um professor por ter tido um 0 num teste, revela o jornal "El Mundo". Outro dos suspeitos é D. G. P., adolescente de 14 anos, acusado de várias agressões consecutivas ao pai. A família deste adolescente pediu perdão à família da vítima e expressou o desejo que a Justiça atue com "contundência", face ao terrível evento. A outra suspeita é uma jovem de 17 anos. Todos os menores têm nacionalidade espanhola e pertencem a famílias de classe média.
De acordo com o Tribunal Superior de Justiça da Extremadura, foi decretado esta quarta-feira o internamento em regime fechado como medida cautelar para os três jovens, que terão agredido violentamente e estrangulado Belén até à morte, no domingo. O alerta foi dado por volta das 23.30 locais (22.30 em Portugal continental). Após o crime, os adolescentes fugiram no carro da vítima até Mérida, onde tiveram um acidente e acabaram por ser capturados.
Educadores sociais pedem mais segurança
Três assistentes sociais juntaram-se e reuniram mais de 23 mil assinaturas em dois dias, através da plataforma Change.org, com o objetivo de exigir mais segurança e mais recursos para os centros educativos, após a morte de Belén.
“Enfrentamos situações de risco todos os dias e não temos segurança suficiente: não há câmaras, não há protocolos claros, nem uma equipa mínima”, disse Victoria Salinas, uma das colegas de trabalho, que afirma estar “horrorizada e cheia de raiva”.
A assistente social, responsável por uma das petições, relatou algumas situações perigosas já vividas enquanto exercia a função de educadora, que a obrigaram a abandonar a carreira. “Quantos mais de nós teremos de morrer para que eles nos ouçam e se importem com a nossa segurança?”, questionou Victoria.
Noutra petição, Lucía Carmona destacou o “constante desconforto físico e psicológico, devido às condições desumanas” em que trabalham estes assistentes sociais.
Numa terceira petição, a colega de profissão Marta M. conseguiu mais de 20 mil assinaturas em algumas horas. “Como profissionais que atuam em instituições que atendem pessoas em situação de vulnerabilidade como abrigos, casas de repouso, centros de emergência social e outras unidades de intervenção, enfrentamos diariamente situações de risco que comprometem a nossa segurança e integridade física e psicológica”, partilhou Marta.
