Jovens vulneráveis transformam dor em arte em Madrid à frente e atrás das câmaras

Projeto municipal gratuito em Madrid, apoiado pela Netflix, usa o cinema como terapia e ferramenta de inclusão social
Fotos: Cineteca Madrid
A primeira escola de cinema terapêutica municipal de Espanha acolhe jovens vítimas de violência, exclusão e doença. Apoiada pela Netflix, a Dentro Cine transforma dor em arte, e arte em oportunidades.
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Entre os espaços industriais recuperados do Matadero e as salas da Cineteca Madrid, na capital espanhola, nasceu há seis anos a Escuela Dentro Cine de la Cineteca, um projeto municipal gratuito e pioneiro que usa o cinema como ferramenta terapêutica, educativa e de inclusão social. Aqui, cada história filmada é também um processo de cura e de autodescoberta.

Durante o ano letivo, de outubro a junho, cerca de 20 jovens entre os 16 e os 23 anos aprendem a filmar e, ao mesmo tempo, a olhar para dentro. São adolescentes vítimas de tráfico, abuso sexual infantil, abandono familiar ou bullying; alguns enfrentam doenças graves, deficiência intelectual ou transtornos do espectro do autismo. Todos encontram nesta escola um espaço seguro onde a dor pode transformar-se em criação e futuro.

Segundo a Cineteca Madrid, a escola é dirigida pela psicóloga Violeta Pagán e pelo cineasta Pedro Sara, ambos da associação "24 posibilidades por segundo", que desde 2018 conduz este trabalho pioneiro.
Netflix apoia bolsas e residências artísticas
A Netflix é uma das principais apoiantes da Dentro Cine, financiando bolsas de formação e residências artísticas para jovens que se destacam no programa. Graças a esta parceria, vários antigos alunos continuaram estudos ou ingressaram em equipas profissionais do setor audiovisual.
O projeto conta ainda com o apoio da Fundação Banco Sabadell, da Fundação Balia, da Opción 3 e da rede ASPA, ligada à Direção-Geral de Família e Infância do Ayuntamiento de Madrid.
A metodologia é prática e emocional. "Aprender fazendo" é a regra: os alunos escrevem guiões, filmam, montam e participam em todas as fases de produção. Psicólogos e educadores acompanham o processo, ajudando cada participante a encontrar uma linguagem própria e a reconstruir a autoestima através do cinema.

Os formadores - argumentistas, técnicos profissionais, montadores, cineastas e operadores de fotografia - acompanham os alunos para que consigam dar forma às suas ideias e emoções. A escola procura aliar a aprendizagem artística a um forte componente emocional e social. Educadores e psicólogos colaboram em todo o percurso, para que a criação cinematográfica se torne uma experiência de confiança, autoestima e crescimento pessoal.

Em seis anos de atividade, a Escuela Dentro Cine de la Cineteca já formou mais de 250 jovens e produziu quatro longas-metragens e um curta. As obras têm sido exibidas em festivais de prestígio como o Documenta Madrid, o Festival de Málaga e o Festival de Gijón.
Entre os títulos mais destacados estão "Las edades sensibles a la luz" (2019), "Amor sin ciudad" (2020), "Qué planeta reinaría" (2022) e "La lengua rota del sueño" (2023), que encerrou o Documenta Madrid. Este ano, o filme "Maldito niño" - desenvolvido com a Universidade Carlos III e a Filmoteca Española - reforçou o prestígio internacional do projeto.
Em 2023, o projeto foi distinguido pelo Ministério de Direitos Sociais de Espanha com o prémio "Activistas por el futuro: uma Espanha melhor com a Agenda 2030", pelo seu contributo inovador na inclusão social através da arte.

