A Justiça brasileira aperta o cerco a Jair Bolsonaro e à família, que se tem organizado para combater de forma direta o juiz do Supremo responsável pela investigação à tentativa de golpe de Estado. O ex-presidente está sob ameaça de prisão por violar medidas de coação e foram congelados bens a Eduardo Bolsonaro.
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O braço de ferro entre Jair Bolsonaro e a Justiça brasileira pode levar o antigo presidente do país até à prisão, depois de o Supremo Tribunal Federal ter considerado que o ex-presidente brasileiro não cumpriu as medidas de coação agravadas, sexta-feira, após mais uma diligência na investigação a um alegado golpe de Estado e "tentativa violenta de abolição do Estado democrático de direito".
O Supremo Tribunal Federal (STF) brasileiro deu 24 horas à defesa de Jair Bolsonaro para explicar o incumprimento da medida cautelar que o proíbe de usar as redes sociais, direta ou indiretamente, sob pena de prisão, por o político ter visitado a Câmara dos Deputados para discursar com aliados e os vídeos terem sido partilhados nas redes sociais por apoiantes e familiares, num ato que o tribunal considerou uma forma de contornar a proibição. "A medida cautelar também inclui transmissões, retransmissões ou veiculação de áudios, vídeos ou transcrições de entrevistas em qualquer plataforma de rede social em contas de terceiros", tinha explicado momentos antes o juiz federal Alexandre de Moraes.
"Não roubei os cofres públicos, não desviei recurso público, não matei ninguém, não trafiquei ninguém. Isso aqui é um símbolo da máxima humilhação no nosso país", disse Bolsonaro, mostrando a pulseira eletrónica. Bolsonaro deveria ter dado uma entrevista ao site "Metrópoles", que seria transmitida em direto no YouTube, e que acabou por ser cancelada devido ao "receio de ser preso", segundo o próprio órgão de comunicação social.
Bens congelados a Eduardo Bolsonaro
No âmbito deste processo, Alexandre de Moraes determinou o bloqueio de bens móveis, imóveis, salário e contas bancárias de Eduardo Bolsonaro, deputado e filho de Jair, para tentar boicotar as ações deste, que se encontra desde fevereiro no EUA, alegadamente a praticar "atos hostis contra o Brasil". Segundo a Justiça, pai e filho procuraram "induzir, instigar e auxiliar" o Governo de Donald Trump "na prática de atos hostis contra o Brasil", com o objetivo de "arquivar" o processo do golpe.
Na ótica do Supremo Tribunal Federal, ambos atuaram de forma "dolosa e conscientemente de forma ilícita" para "tentar submeter o funcionamento do Supremo ao julgamento de um Estado estrangeiro". Bolsonaro enfrenta um julgamento criminal federal, sob a acusação de "liderar" um plano golpista para se manter no poder e impedir a posse do seu sucessor, Lula da Silva, depois de perder as eleições de 2022.
Esse processo, no qual enfrenta uma possível pena de 40 anos de prisão, foi o principal motivo que levou o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, a anunciar uma tarifa adicional de 50% sobre as importações brasileiras a partir de 1 de agosto. O líder republicano alegou que Bolsonaro está a ser vítima de uma "caça às bruxas" e exigiu que o julgamento "termine imediatamente".