Adversário de Recep Tayyip Erdogan, que é líder do Partido Republicano do Povo (CHP), apresenta uma postura e retórica totalmente opostas às do rival.
Corpo do artigo
Embora não seja uma figura conhecida internacionalmente, Kemal Kiliçdaroglu é famoso na Turquia por ser um veterano político. No ano que fica marcado pelas eleições com maior peso na História do país, destacou-se como o principal líder da oposição, já que é dirigente do Partido Republicano do Povo (CHP).
Aos 74 anos, enfrenta um dos maiores desafios da carreira, ao tentar destronar Recep Tayyip Erdogan da presidência. No entanto, tendo em conta os resultados da primeira volta, na qual obteve cerca de menos cinco pontos percentuais do que o atual líder de Ancara, o frente a frente de 28 de maio poderá revelar-se um desafio difícil.
O homem que muitas vezes é comparado ao guia indiano Gandhi - não só pelos traços do rosto e os óculos arredondados, como pela postura pacifista que espelha nas diferentes situações - quer marcar a diferença em relação ao adversário.
Em 2016, depois da tentativa de golpe de Estado na Turquia, a figura de Kiliçdaroglu fez-se sobressair no espaço mediático, já que, em resposta à repressão do Governo contra os manifestantes, o líder do CHP lançou o movimento "Marcha por Justiça", levando milhares a participar numa caminhada pacífica desde Ancara até Istambul.
De Anatólia para o Mundo
Quarto de sete filhos de uma dona de casa e de um funcionário público, Kiliçdaroglu nasceu em Anatólia e faz sempre questão de lembrar que cresceu num meio "pobre e isolado", imputando a ascensão social que alcançou "às oportunidades oferecidas pela República".
Formou-se em Economia na Universidade de Ancara, onde começou a dar os primeiros passos na política e, mais tarde, casou com uma jornalista.
Enquanto figura mediática sobreviveu a uma série de ataques violentos, ficando conhecido por ser um dos políticos turcos mais perseguidos ao longo dos últimos anos, já que se tem demarcado por contrariar o islamismo conservador do Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP) de Recep Tayyip Erdogan.
Durante muito tempo foi considerado próximo dos militares, que desde 1960 derrubaram quatro governos, sendo ainda um firme defensor da separação da religião face ao Estado, tal como da proibição do uso do véu nas escolas.
Corria o ano de 2010 quando chegou à liderança do CHP, mas, ainda que seja um peão experiente, houve dúvidas na hora de decidir quem iria representar a coligação dos partidos da oposição que se uniram para derrubar Erdogan - a designada "Mesa dos Seis". Mas acabou por conseguir a confiança dos pares.
Defensor da aproximação da Turquia à Europa, apela ainda à "reconciliação social" num país de prolongadas fraturas, à igualdade dos sexos, a uma Justiça independente, tal como a universidades independentes.
A união da sociedade que tem vindo a promover nas ações de campanha ficou comprovada pela promoção interna de figuras religiosas, curdos ou ativistas dos direitos das mulheres, naquela que é vista como uma tentativa para provar à sociedade turca que o CHP mudou e é capaz de fazer mexer a conjuntura atual.
O primeiro grande passo foi dado na primeira volta das eleições, na qual conseguiu sair vitorioso nas principais cidades turcas. Ainda assim, não conseguiu fazer esmorecer o apoio das zonas mais rurais a Erdogan. No próximo domingo, fecha mais um capítulo político - independentemente dos resultados - mas, em prol de uma reviravolta política, tem tomado medidas, que, aos olhos de vários analistas políticos, podem automutilar a campanha.
Revés no tom político
Recentemente voltou-se para uma retórica antimigração, normalmente associada à extrema-direita. Kiliçdaroglu acusou o Executivo de permitir que milhões de migrantes "irregulares" entrassem no país.
As declarações radicais contradizem os discursos unificadores que foi proferindo antes da primeira ida às urnas - um revés que denuncia uma forma desesperada de tentar roubar votos ao fiel eleitorado do rival. A 28 de maio, o Mundo saberá se a estratégia resultou.