As negociações desta terça-feira entre as autoridades da Ucrânia e dos Estados Unidos em Jeddah, na Arábia Saudita, resultaram no acordo de Kiev em relação a um cessar-fogo temporário. O que esperar para os próximos dias?
Corpo do artigo
O que foi acordado sobre a trégua?
O comunicado conjunto dos norte-americanos e ucranianos após a reunião ressalta que "a Ucrânia manifestou disponibilidade para aceitar a proposta dos EUA de promulgar um cessar-fogo imediato e provisório de 30 dias, que pode ser prolongado por acordo mútuo entre as partes e que está sujeito à aceitação e implementação simultânea pela Federação Russa".
O líder de Kiev, Volodymyr Zelensky, disse que a delegação da Ucrânia tinha apresentado um cessar-fogo parcial no ar e no mar, mas que os EUA deram "um primeiro passo ainda maior". A proposta de Washington foi de uma trégua de um mês, "não só interrompendo os ataques com mísseis, drones e bombas no Mar Negro, mas também ao longo de toda a linha da frente", acrescentou o presidente ucraniano.
O que mais foi decidido na reunião entre Washington e Kiev?
Em troca da luz verde da Ucrânia, os Estados Unidos retomaram a partilha de informações e assistência de segurança a Kiev. Tais apoios estavam suspensos desde a altercação entre Zelensky, Donald Trump e o vice-presidente norte-americano, JD Vance, na Sala Oval.
A Ucrânia, que expressou o desejo de ter a presença dos parceiros europeus no processo de paz, discutiu com a delegação dos EUA sobre as questões humanitárias, como a troca de prisioneiros de guerra, a libertação de civis sob custódia e o retorno de crianças ucranianas transferidas à força. Kiev e Washington concordaram ainda "concluir o mais rapidamente possível um acordo abrangente para desenvolver os recursos minerais críticos da Ucrânia".
Quais os próximos passos?
Os Estados Unidos comprometeram-se a informar os russos sobre a proposta, com a diplomacia de Moscovo a não descartar contactos com representantes norte-americanos. Donald Trump disse que deve ter um diálogo com Vladimir Putin esta semana.
O conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, Mike Waltz, deve encontrar-se com o homólogo russo nos próximos dias, enquanto que o enviado especial de Trump, Steve Witkoff, deve ir a Moscovo esta semana para encontrar-se com o presidente da Rússia.
A Rússia aceitará a proposta de cessar-fogo?
Questionado sobre a reação do Kremlin em relação ao cessar-fogo, o porta-voz Dmitry Peskov respondeu: "Estão a precipitar-se um pouco. Ontem, ao falar com a imprensa, tanto [o secretário de Estado norte-americano Marco] Rubio como Waltz disseram que nos iriam passar informações detalhadas através de vários canais sobre a essência da conversa que teve lugar em Jeddah. Primeiro, precisamos de receber essas informações".
Um oficial sénior russo, ouvido pela agência Reuters sob condição de anonimato, é cético em relação a uma aprovação da Rússia. "É difícil para Putin concordar com isto na sua forma atual", revelou a fonte, mencionando que Moscovo exigirá garantias - ainda mais num cenário em que Kiev voltou a receber assistência norte-americana. "Putin tem uma posição forte porque a Rússia está a avançar", acrescentou. Enquanto as tropas russas continuam a conquistar territórios no Leste da Ucrânia, os militares ucranianos estão cada vez mais sob cerco na região russa ocupada de Kursk, o que leva Kiev a perder força na mesa de negociações.