
Rustem Umerov na conferência de imprensa após a segunda ronda de negociações em Istambul
Foto: Adem Altan / AFP
A Ucrânia e a Rússia concordaram esta segunda-feira trocar todos os prisioneiros de guerra gravemente feridos ou doentes e libertar a totalidade dos militares com idades entre os 18 e os 25 anos, anunciou o ministro da Defesa ucraniano.
"Concordámos em trocar todos os prisioneiros de guerra gravemente feridos e doentes", disse Rustem Umerov, numa conferência de imprensa após a segunda ronda de negociações diretas entre as partes realizada em Istambul, Turquia.
O ministro ucraniano, que chefiou a delegação de Kiev, anunciou também outro acordo para a troca dos restos mortais de 6000 soldados de cada lado que caíram atrás das linhas inimigas.
Umerov revelou que a sua delegação entregou à parte russa uma lista com os nomes de centenas de crianças ucranianas deportadas por Moscovo dos territórios ocupados pela Rússia na Ucrânia.
Kiev considera o regresso destes menores uma condição fundamental para o progresso em direção à paz.
"Esta questão é uma prioridade fundamental para nós. Se a Rússia estiver realmente empenhada no processo de paz, o regresso de pelo menos metade das crianças desta lista seria um sinal positivo", observou Umerov.
O ministro ucraniano afirmou ainda que propôs um novo encontro, a decorrer entre 20 e 30 de junho, ao mais alto nível, com os presidentes da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, com os homólogos russo, Vladimir Putin, e norte-americano, Donald Trump.
"Isto é crucial para o avanço do processo negocial", comentou.
A proposta deste encontro tripartido foi igualmente hoje avançada pelo presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, reunião que poderia decorrer em Istambul ou em Ancara.
Rússia rejeita cessar-fogo incondicional
A Rússia, no entanto, rejeitou mais uma vez a proposta de cessar-fogo incondicional, segundo Kiev.
Moscovo tem sustentado que esta iniciativa permitiria à Ucrânia rearmar-se através de entregas de armas ocidentais antes de um reinício das hostilidades.
Na conferência de imprensa que decorreu em paralelo após a reunião, o chefe da delegação russa, Vladimir Medinsky, indicou que propôs à Ucrânia um cessar-fogo parcial de "dois a três dias em certos setores da frente” e um roteiro com os passos a tomar para uma suspensão total das hostilidades.
A ronda anterior, também realizada em Istambul em 16 de maio, já tinha levado a uma troca de mil prisioneiros de cada lado, sem resultar num cessar-fogo, após mais de três anos da invasão russa da Ucrânia.
As negociações decorrem um dia após um ataque sem precedentes de drones ucranianos a quatro aeródromos militares russos.
Durante a operação, os ucranianos transferiram drones explosivos para a Rússia antes de os lançarem, destruindo ou danificando inúmeras aeronaves, incluindo a milhares de quilómetros da frente de batalha.
Em alguns setores da frente, porém, Kiev enfrenta dificuldades, uma vez que as tropas de Moscovo avançaram nos últimos dias, particularmente na região de Sumy, no norte da Ucrânia.
Putin não deve "conseguir nada" com invasão
Os dois lados estão longe de um acordo, seja uma trégua ou um acordo de longo prazo.
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, insistiu hoje que Vladimir Putin não deve "conseguir nada" com a sua invasão e rejeita ceder a soberania sobre as quatro províncias anexadas pela Rússia, além da península da Crimeia.
A Rússia, por sua vez, insiste em resolver as "causas profundas" do conflito e exige, além do controlo das províncias de Donetsk, Lugansk, no norte da Ucrânia, e de Zaporijia e Kherson, no sul, que Kiev renuncie aos seus planos de adesão à NATO e aos seus planos de militarização.
Estas condições são inaceitáveis para Kiev, que pretende a retirada total das tropas russas do seu território, bem como garantias concretas de segurança, apoiadas pelo Ocidente, como a proteção da NATO ou a presença de tropas ocidentais no terreno, que Moscovo descarta.
