Rússia alega que se retirou da ilha no Mar Negro para facilitar exportação de cereais. Ucrânia diz que forçou retirada com ação militar musculada.
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As atenções do mundo voltaram-se para a pequena ilha no Mar Negro logo no primeiro dia da ofensiva russa, a 24 de fevereiro, quando um membro da guarnição ucraniana respondeu ao navio de guerra russo que lhe exigia rendição com um expressivo: "Go fuck yourself!". A assimetria numérica viria, porém, nesse dia, a impor mesmo a rendição. Até esta quinta-feira, quando as posições de domínio se inverteram.
As forças russas anunciaram que se retiraram da ilha para facilitar a exportação de cereais da Ucrânia, depois de, durante semanas, aquele ponto estratégico no Mar Negro ter estado sob bombardeamento de drones e mísseis ucranianos. Kiev conta versão diferente e garante ter forçado a retirada dos russos pela força da investida aérea e pelo fogo da artilharia.
"Em 30 de junho, como sinal de boa vontade, as forças armadas russas cumpriram os seus objetivos na Ilha da Serpente e retiraram a sua guarnição", referiu o porta-voz do Ministério da Defesa russo, Igor Konashenkov, citado pela agência noticiosa francesa AFP. O mesmo explicou que a retirada se destinava a facilitar as exportações de cereais da Ucrânia.
"A Rússia não se opõe aos esforços da ONU para criar um corredor humanitário para exportar cereais da Ucrânia", acrescentou Konashenkov, para quem "esta decisão não permitirá mais a Kiev especular sobre uma crise alimentar iminente, dizendo que é impossível exportar cereais devido ao controlo total da Rússia sobre o Noroeste do Mar Negro".
Já o exército ucraniano congratulou-se esta quinta-feira por ter colocado termo ao domínio que os russos mantinham na ilha desde o arranque do conflito.
"Agradeço aos defensores da região de Odessa que fizeram tudo para libertar um território de importância estratégica", disse o comandante-chefe das Forças Armadas ucranianas, Valeri Zaloujni. "Incapazes de resistir ao fogo da nossa artilharia, aos nossos mísseis e aos ataques aéreos, os ocupantes [russos] abandonaram a Ilha da Serpente", acrescentou Zaloujni na mesma mensagem, difundida pelo Telegram.
Já o chefe de gabinete do presidente Volodymyr Zelensky deixou no Twitter um elogio às forças ucranianas: "Não há mais militares russos na Ilha da Serpente. As nossas forças armadas fizeram um bom trabalho", escreveu Andriy Yermak.
Grãos para os "amigos"
Entretanto, um primeiro cargueiro russo carregado com cereais e escoltado pela Marinha de Guerra de Moscovo zarpou do porto de Berdiansk, ocupado pelas forças russas, com sete toneladas de carga.
"Após vários meses de paragem, um primeiro navio da Marinha Mercante partiu do porto comercial de Berdiansk com sete mil toneladas de cereais a bordo com destino a países amigos", disse o chefe da Administração pró-russa, Evgueni Balitski, através da rede social Telegram.
Kiev tem vindo a acusar Moscovo de roubar as colheitas de trigo em áreas ocupadas pelo exército russo no Sul da Ucrânia para posteriormente as vender de forma ilegal.