Lançamentos aéreos de ajuda em Gaza são "distração" e podem "matar civis famintos"
O chefe da agência da ONU para os refugiados palestinianos (UNRWA), Philippe Lazzarini, criticou duramente os lançamentos aéreos de ajuda humanitária a Gaza, considerando-os insuficientes e "uma distração" da real dimensão do problema.
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"Os lançamentos aéreos não reverterão o agravamento da fome", assegurou, defendendo que, além de "caros", podem contribuir até para "matar pessoas famintas". "São uma distração, uma cortina de fumo", referiu, acrescentando que "a fome provocada pelo Homem só pode ser enfrentada com vontade política".
"Levantem o cerco, abram os portões e garantam acesso às pessoas com necessidades", frisou. A reação de Lazzarini surge numa altura em que o Reino Unido está a intensificar esforços internacionais para entregar ajuda aos palestinianos por via aérea.
O primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, disse este sábado que vai colaborar com países como a Jordânia para transportar ajuda humanitária para Gaza e resgatar crianças que necessitam de cuidados médicos urgentes. O chefe de Governo fez o anúncio após conversações com o presidente francês, Emmanuel Macron, e o ministro dos Negócios Estrangeiros alemão, Friedrich Merz — membros do grupo E3, que além de França e Alemanha inclui a Itália —, nas quais se enfatizou a necessidade de pressionar para um cessar-fogo imediato na Faixa de Gaza.
Neste sentido, os três líderes, Macron, Merz e Starmer, comprometeram-se a trabalhar em conjunto num plano para transformar uma trégua numa paz duradoura e numa solução de dois Estados. Quando o plano estiver pronto, serão envolvidos outros aliados, afirmou Downing Street em comunicado.
O Programa Alimentar Mundial (PAM) denunciou, ontem, que cerca de um terço da população da Faixa de Gaza passa dias sem comer e que a desnutrição está a aumentar de forma acentuada. "A crise alimentar em Gaza atingiu níveis de desespero sem precedentes. Quase uma em cada três pessoas não come há vários dias. A desnutrição está a aumentar significativamente, com 90 mil mulheres e crianças a necessitarem urgentemente de tratamento”, indicou a agência das Nações Unidas responsável pela ajuda alimentar.
Segundo o PAM, com sede em Roma, 470 mil pessoas deverão enfrentar “uma fome catastrófica” entre maio e setembro no território palestiniano sob cerco imposto por Israel. “Há pessoas a morrer por falta de ajuda humanitária”, alertou o PAM, lembrando que a ajuda alimentar é o “único meio de acesso a comida para a população, já que os preços dos alimentos atingiram níveis insustentáveis”.