Robert Francis Prevost foi a escolha inesperada dos cardeais para liderar a fraturada Igreja Católica. Agostiniano, o 267.º Papa, o primeiro que chega dos Estados Unidos, dirigiu-se à multidão na Praça de São Pedro com uma saudação de paz e união.
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À quarta votação no Conclave, os 133 cardeais, reunidos desde quarta-feira na penumbra da Capela Sistina, elegeram hoje o novo líder de uma Igreja global que congrega 1,4 mil milhões de fiéis. O fumo branco, libertado às 18.08 horas de Roma, resultou em júbilo para os milhares que aguardavam na Praça de São Pedro, no Vaticano. Em movimento contrário à avalanche de previsões que apontavam a escolha de um Papa italiano, a declaração “Habemus Papam”, proferida às 19.13, na grande varanda voltada para a praça, viria a desvendar que o sucessor de Francisco chega, afinal, também das Américas – o primeiro dos Estados Unidos. Robert Francis Prevost, o agostiniano nascido em Chicago, que cumpriu durante anos uma existência de missionário no Peru, dirigiu-se à multidão com uma saudação de paz, desígnio várias vezes reiterado num discurso inaugural que evocou as dores do Mundo, que “precisa de construir pontes com o diálogo e o encontro”.
“O mal não prevalecerá”
“Deixo uma saudação de paz a todas as pessoas. Que a paz esteja convosco. Esta é a paz de Cristo ressuscitado, uma paz que ama a todos, incondicionalmente”, atirou o Papa de 69 anos, que escolheu ser Leão XIV, em italiano fluente, diante do mar de fiéis que o escutavam. O agora chefe de Estado do Vaticano, que ascendeu a cardeal apenas em 2023, evocou a “voz corajosa de Francisco” e assegurou: “O mal não prevalecerá. Sem medo, estamos unidos”. Sem nunca recorrer à sua língua nativa, o inglês, Prevost insistiu repetidas vezes na necessidade de paz e união, numa “Igreja à procura da paz e da justiça”, aludindo ao atual contexto de guerras que vieram transfigurar a ordem mundial.
Por um instante, comunicou Leão XIV em espanhol, para se dirigir a todos aqueles que, durante mais de duas décadas, serviu enquanto missionário no Peru. Resgatando depois a mensagem com que escolheu apresentar-se e lançar um novo pontificado numa era ferida por cisões e conflitos: “Estamos juntos nesta nova missão pela paz no Mundo”.
Depois da morte de Francisco, o primeiro Papa latino-americano, que procurou abrir a Igreja, que liderou durante 12 anos, ao Mundo moderno e introduzir reformas que nem sempre colheram consenso na instituição, alguns cardeais pediram continuidade com a visão progressista do jesuíta, enquanto outros se bateram por um recuo no tempo e o regresso à dimensão mais tradicional da Santa Sé.
Ao contrário de Francisco, que rejeitava muitos dos formalismos da instituição e se apresentava de batina branca, Leão XIV mostrou-se ao Mundo com a tradicional vestimenta papal vermelha. Antes do Conclave, que se cumpriu entre quarta e quinta-feira, o ainda cardeal Robert Francis Prevost era promovido como um possível candidato do compromisso, a quem a experiência como missionário conferia um perfil mais universal, mas que dificilmente reuniria os dois terços de votos necessários entre os 133 cardeais.
Prevost, que acabou por fintar as probabilidades, terá conquistado a atenção dos seus pares com o estilo discreto e o apoio contínuo a Francisco - sobretudo no seu compromisso com as questões de justiça social -, que o levou para Roma e fez dele prefeito do poderoso Dicastério para os Bispos, cabendo-lhe supervisionar a seleção de muitos dos bispos nomeados em todo o mundo. Em conferência de imprensa no Vaticano, em 2023, diria Prevost: “O nosso trabalho é ampliar a tenda e fazer com que todos saibam que são bem-vindos dentro da Igreja”.
Igualmente empenhado na promoção da paz, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, celebrou ontem a eleição do novo Papa, com quem espera trabalhar na defesa da “solidariedade e reconciliação”, para a construção de “um mundo justo e sustentável para todos”, num tempo de múltiplos desafios.