O relatório do Global Carbon Project, apresentado esta sexta-feira, conclui que as emissões de dióxido de carbono vão crescer cerca de 1% em relação ao ano passado, o que significará um novo recorde histórico. A revelação surge na mesma altura em que se realiza a cimeira do clima (COP27) na cidade egípcia de Sharm el Sheij.
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De acordo com o grupo de investigadores, que monitoriza os principais gases de efeito estufa desde 2006, ainda não há sinal da queda das emissões de gases poluentes. Se os níveis atuais de emissões persistirem, há 50% de hipóteses de que a barreira de 1,5 graus seja ultrapassada nos próximos nove anos.
Neste momento, explica o jornal espanhol "El País", a temperatura média global é 1,1 graus mais alta do que na era pré-industrial e o Acordo de Paris estabelece que não deve ultrapassar dois graus e, na medida do possível, 1,5.
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No melhor dos cenários, e se forem aplicados cortes fortes e rápidos, até ao final deste século poderá ser possível baixar as temperaturas médias para manter o planeta abaixo de 1,5 graus. Porém, os planos climáticos dos países levam agora, na melhor das hipóteses, a um aquecimento de 2,5 graus. Cada décimo de grau de aumento multiplicará os efeitos adversos desta crise, como eventos climáticos extremos.
Segundo os cálculos, o ano de 2022 vai terminar com emissões totais de dióxido de carbono (CO2) de 40,6 mil milhões de toneladas. Destas, 36,6 mil milhões (90%) corresponde ao CO2 ligado aos combustíveis fósseis. O restante, quase quatro mil milhões de toneladas, está ligado a mudanças no uso da terra, como a desflorestação.
A 27ª conferência do clima da ONU, a COP27, está a ser realizada entre 6 de novembro a 18 de novembro de 2022 em Sharm El Sheikh, Egito
"Este ano, vemos mais um aumento nas emissões globais de CO2 de combustíveis fósseis, quando precisamos de um rápido declínio", disse Pierre Friedlingstein, cientista climático da Universidade de Exeter, que liderou o estudo, ao "The Guardian". "Os líderes da COP27 terão de tomar medidas significativas se quisermos ter alguma hipótese de limitar o aquecimento global perto de 1,5 graus".
Efeitos da pandemia revertidos
As medidas de confinamento para combater a pandemia de covid-19 paralisaram a economia mundial e fizeram com que o CO2 caísse 5,4% em 2020. Em 2021, houve uma forte recuperação, que se traduziu num crescimento anual de 5,1%. Agora a queda está a ser compensada - e superada, com o aumento de 1% esperado para este ano. Além das emissões da principal fonte emissora, o carvão, também as do petróleo vão crescer 2,2% devido, em grande parte, à recuperação definitiva da aviação, que tem sido mais lenta do que o resto da economia.
O relatório sugere que o CO2 expelido pela economia chinesa cairá 0,9% devido às restrições ainda impostas pela pandemia e, na União Europeia, diminuirão mais 0,8% devido à redução do uso de gás natural na sequência da guerra no Ucrânia. No entanto, essas quedas são anuladas pelos aumentos esperados nos Estados Unidos (1,5%), Índia (6%) e nos países do resto do mundo (1,7%).
"Estamos muito longe de onde precisamos de ir", disse Glen Peters, membro do Global Carbon Projec no Centro de Investigação Climática Internacional (Cícero) na Noruega. "Muitos países, cidades, empresas e indivíduos comprometeram-se a reduzir as emissões. É um lembrete gritante de que, apesar de toda essa retórica, as emissões globais de CO2 fóssil são mais de 5% maiores do que em 2015, ano do acordo de Paris".
Quem são os principais emissores?
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De acordo com os investigadores, a China - que já acumula 32% de todo o CO2 do mundo e é o principal poluidor - não planeia atingir a neutralidade das emissões até 2060, muito mais tarde do que o necessário para cumprir a meta de 1,5 graus. O segundo lugar no pódio é ocupado pelos Estados Unidos, com 14%. Já no terceiro lugar estão empatados a Índia e a União Europeia, com 8%.
Mas nem tudo são más notícias. A análise do Global Carbon Project mostra que há uma desaceleração no ritmo de crescimento global do uso de combustíveis fósseis. Entre 2000 e 2010, a taxa anual de crescimento foi de 3% contra 0,5% na última década. Esta desaceleração é motivada pela implementação das energias renováveis e pelo avanço da mobilidade elétrica. O problema é a velocidade: a lentidão com que essas tecnologias substituem os combustíveis fósseis contra a rapidez necessária para fazer mudanças que evitem o pior do aquecimento global.