Liberal europeísta pede unidade para vencer segunda volta das presidenciais polacas
O candidato liberal europeísta Rafal Trzaskowski, que lidera as projeções das presidenciais na Polónia, realizadas este domingo, pediu unidade para a segunda volta das eleições, que vai disputar em 1 de junho com o historiador conservador Karol Nawrocki.
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"Este resultado mostra o quão fortes que temos de ser, o quão determinados que temos de ser", disse o atual presidente da Câmara de Varsóvia aos apoiantes.
Karol Nawrocki agradeceu, por seu lado, aos seus eleitores, avisando que a uma vitória na segunda volta servirá para impedir a atual coligação no poder, e que apoia Trzaskowski, de monopolizar todo o país.
Segundo as sondagens à boca das urnas, Trzaskowski, apoiado pela força política dominante no Governo polaco, obteve 30,8% dos votos, enquanto Karol Nawrocki, um independente com apoio do maior partido de oposição, alcançou 29,1%
"Estou muito feliz por ter vencido a primeira volta, mas ainda temos muito trabalho pela frente. Precisamos de determinação, do vosso voto e de convencer toda a gente", observou Rafal Trzaskowski.
Na reação às projeções do seu adversário nacionalista, o conservador mostrou-se confiante na vitória na segunda volta, com a crítica de que estas foram as eleições “menos justas” dos últimos 35 anos.
"Uma torrente de propaganda e mentiras, financiada por empresas públicas, um subsídio retirado ao partido que me apoiou, o PiS [Lei e Justiça]. E então? Estamos aqui e vamos ganhar", declarou Nawrocki, em alusão à punição à anterior força política no Governo por utilização ilegítima dos órgãos de comunicação social estatais para atos de propaganda.
As projeções realizadas pelo instituto Ipsos para a Polsat, TVN e TVP preveem que o terceiro colocado será Sławomir Mentzen, candidato da Confederação (extrema-direita), com 15,4% dos votos, e a sua mensagem populista libertária inspirada no movimento MAGA nos Estados Unidos.
O polémico candidato de ultradireita Grzegorz Braun, que acumula sucessivas acusações de antissemitismo, deverá conseguir 6,2% e o candidato de esquerda Adrian Zandberg, do partido Juntos, 5,2%.
Nenhum outro candidato ultrapassou os 05%, incluindo Szymon Holownia, da Polónia 2050 (democratas-cristãos) e atual presidente do parlamento, e Magdalena Biejat, da Nova Esquerda e vice-presidente do Senado, dois partidos que integram a coligação governamental chefiada por Donald Tusk e que agora têm resultados muito abaixo do que esperavam.
Imediatamente após o anúncio das sondagens a boca das urnas, Szymon Holownia pediu a Trzaskowski para parar "a marcha de vigaristas, ladrões, criadores de ódio e antissemitas que detestam os outros e querem uma guerra civil em grande escala” na Polónia.
"Rafal, derruba esse muro que nos separa!", afirmou o líder do parlamento, dirigindo-se ao candidato liberal, numa referência à forte polarização prevalecente no país.
O vencedor vai suceder ao conservador nacionalista Andrzej Duda, que atingiu o limite de mandatos, e que, tal como Karol Nawrocki, também era apoiado pelo PiS.
Até ser derrotado em outubro de 2023 por uma coligação pós-eleitoral, o PiS liderou o Governo na Polónia durante oito anos, marcados por acusações de deriva autoritária e de impor uma reforma judicial, que mereceu penalizações de Bruxelas por tentativa de influência política dos magistrados.
Andrzej Duda tem sido criticado por abusar do poder de veto e bloquear a atividade do Governo, incluindo a revisão da reforma judicial, da lei do aborto e os direitos das minorias sexuais.
Uma vitória do autarca de Varsóvia significaria o fim do problema presidencial na perspetiva do Governo de Donald Tusk, enquanto para os adversários do PiS poderia representar a inversão de uma sucessão de desaires eleitorais, que começaram nas legislativas há um ano e meio e continuaram nas locais e europeias desde então.
Favorito nas sondagens para as eleições de hoje, Rafal Trzaskowsk, 53 anos, é oriundo de uma família de intelectuais de Varsóvia e europeísta assumido.
Conquistou a Câmara de Varsóvia em 2018 e foi reeleito no ano passado, após ter perdido por pouco a corrida para a presidência contra o atual chefe de Estado.
Karol Nawrocki, um historiador nacionalista de 42 anos apaixonado pelo submundo do crime, é um admirador do presidente norte-americano, Donald Trump, de quem recebeu a previsão de que iria vencer.
Durante a campanha, pediu que fossem realizados controlos na fronteira com a Alemanha para impedir a entrada de migrantes, que alegou estarem ser rejeitados por aquele país, e exigiu que Berlim pague reparações à Polónia pela Segunda Guerra Mundial.
A partir deste ano, começou a dirigir o Instituto da Memória Nacional polaco, que investiga crimes nazis e comunistas.
Após alguma ambiguidade sobre a invasão da Ucrânia, defendeu a rutura das relações diplomáticas com a Rússia, “um Estado bárbaro, cruel e que devia ser isolado”.