A Líbia prepara-se para assinalar sexta-feira o primeiro aniversário da sua revolução, mas persiste a inquietação quanto ao futuro do país, em particular em matéria de segurança, estabilidade e fundação de um Estado de Direito.
Corpo do artigo
O país está a preparar as primeiras eleições desde há décadas, mas a proliferação de milícias de ex-rebeldes tem complicado a tarefa dos novos dirigentes.
Estudantes, funcionários ou desempregados, os 'thowars' (revolucionários, em árabe) apresentaram-se como voluntários para combater o regime de Muammar Kadafi, que acabaria por ser morto a 20 de Outubro, após mais de 40 anos de poder absoluto.
"Pegaram em armas para se libertarem do jugo da ditadura, mas quando alcançaram a liberdade não deixaram as armas", afirmou Issam, um jornalista de Tripoli, citado pela agência France Presse.
Após um conflito sangrento, foram formadas milícias que asseguram atualmente as funções da polícia e do exército, forças que o novo regime ainda não refundou.
"As milícias desenvolveram interesses que recusam abandonar", considerou Hafedh al-Ghwell, um conselheiro do Banco Mundial, num relatório recente.
As milícias armaram-se com recurso ao arsenal herdado do antigo regime e não hesitam em utilizar as armas ao mais pequeno conflito de interesses, provocando vítimas.
Os novos dirigentes estabeleceram como primeiro objetivo desarmar o país. Para esse efeito, puseram em prática um plano para integrar milhares de combatentes nas forças militares ou nos serviços de segurança, mas os resultados ainda não surgiram.
Os revolucionários controlam também as prisões onde se encontram detidos responsáveis e combatentes do antigo regime, alguns dos quais foram torturados até à morte, segundo organizações de defesa dos direitos humanos.
A lentidão das reformas provocou movimentos de contestação ao Conselho Nacional de Transição (CNT), no poder, acusando-o de "roubar a revolução" e de ter permitido a "oportunistas" do antigo regime integrarem a nova equipa dirigente.
As autoridades parecem vergar-se à herança deixada por Muammar Kadafi: proliferação de armas, infraestruturas vetustas, ausência de instituições, economia minada pela corrupção, sistemas de saúde e de ensino rudimentares.
Os desafios são enormes para os novos dirigentes que decidiram suspender tudo até às próximas eleições, previstas para Junho, limitando-se a gerir os assuntos correntes.
Não haverá contratos antes das eleições, decidiu o Governo, numa altura em que as companhias estrangeiras estão à espera de participar em lucrativos contratos para a reconstrução do país.
As novas autoridades fizeram das eleições a prioridade, adoptaram uma lei eleitoral e a formação de uma comissão eleitoral foi saudada pela missão das Nações Unidas na Líbia.
Não há qualquer programa oficial para assinalar o primeiro aniversário da revolução por "respeito aos mártires, aos feridos e aos desaparecidos", segundo o porta-voz do regime, Mohamed al-Harizi.
Os conselhos locais são livres para festejar a data, mas as autoridades proibiram os revolucionários de organizar qualquer desfile militar, disse Harizi.
Os novos dirigentes advertiram também para a possibilidade de ataques por parte de apoiantes do antigo regime com o objetivo de perturbar os festejos.