O líder do partido de extrema-direita alemão Alternativa para a Alemanha (AfD), Alexander Gauland, foi acusado esta quarta-feira por dois historiadores de renome de ter parafraseado um discurso de Adolf Hitler.
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Gauland, de 77 anos e que várias vezes no passado fez declarações polémicas sobre o nazismo, negou a acusação através do diário Tagesspiegel e afirmou desconhecer qualquer "passagem correspondente de Adolf Hitler".
Dois historiadores especializados em nazismo e antissemitismo, Wolfgang Benz e Michael Wolffsohn, afirmam que o dirigente político se inspirou num discurso de Hitler de 1933 para um artigo de opinião que publicou no sábado no diário Frankfurter Allgemeine Zeitung.
No artigo, Gauland critica uma "classe globalizada que se senta nas empresas internacionais, organizações como a ONU, nos 'media', nas 'start-ups', nas universidades, nas ONG, nas fundações, nos partidos e nos seus aparelhos".
"Os seus membros vivem quase exclusivamente nas grandes cidades [...] e quando mudam de Berlim para Londres ou Singapura para mudar de emprego, encontram em todo o lado os mesmos apartamentos, casas, restaurantes, lojas e escolas privadas", continua, referindo-se às elites que a AfD diz combater.
Segundo os historiadores, o artigo de Gauland "moderniza" uma ideia defendida por Hitler num discurso proferido em Berlim a 10 de novembro de 1933.
Nesse discurso, para operários, Hitler criticou uma "pequena clique internacional desenraizada que inflama o ódio entre os povos".
"São pessoas [...] que hoje vivem em Berlim, amanhã podem estar em Bruxelas, depois de amanhã em Paris e depois em Praga, Viena ou Londres e que se sentem em casa em qualquer lado", disse Hitler, referindo-se aos judeus sem os nomear.
O artigo de Gauland "segue de perto, ostensivamente" o discurso de Hitler, afirmou o historiador Wolfgang Benz. "Dá ideia que o líder da AfD tinha o discurso do Führer de 1933 na secretária quando estava a escrever o artigo" para o Frankfurter Allgemeine Zeitung.
"Ele moderniza a crítica à 'pequena clique internacional desenraizada' que passa a 'clique globalizada' para a adaptar à linguagem atual", considerou.
Para Michael Wolffsohn, "é grave que Gauland esteja a sinalizar aos seus apoiantes instruídos que conhece o discurso e o estilo de Hitler e que transpõe para os adversários da AfD as críticas de Hitler aos judeus".
Gauland foi recentemente criticado, entre outros pela chanceler alemã, Angela Merkel, por ter desvalorizado a importância histórica do regime nazi, afirmando que Adolf Hitler e o nazismo foram apenas "uma caganita de pássaro" na milenar História da Alemanha.
"O Governo alemão rejeita categoricamente qualquer tentativa de minimizar ou relativizar os crimes nazis. O regime nacional-socialista e os crimes do Holocausto são singulares e constituem um verdadeiro crime contra a humanidade", disse então o porta-voz de Merkel, Steffen Seibert, depois de qualificar o comentário de "vergonhoso".
Noutras ocasiões, pediu aos alemães que tenham orgulho dos soldados alemães que combateram nas duas Guerras Mundiais.
A AfD foi a terceira força política mais votada nas eleições de setembro de 2017, com cerca de 13%, e é a principal força da oposição na câmara baixa do parlamento, Bundestag.