O líder da oposição polaca, Donald Tusk, declarou este domingo vitória nas legislativas, logo após o encerramento das urnas, quando as primeiras projeções dão a vitória ao partido no poder, Lei e Justiça (PiS), mas sem maioria parlamentar.
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Às 21 horas locais (20 horas em Lisboa) em ponto, o líder da Plataforma Cívica (PO) surgiu nas televisões nacionais a reclamar a alternativa no poder, ao fim de oito anos dos conservadores populistas do PiS.
"A Polónia venceu. A democracia venceu. Nós expulsámo-los do poder", afirmou Donald Tusk aos seus apoiantes.
"Sei que os nossos sonhos eram ainda mais ambiciosos. Estou na política há muito tempo. Nunca fui tão feliz em toda a minha vida", afirmou o antigo primeiro-ministro polaco e ex-presidente do Conselho Europeu, acrescentando: "Há um ano ninguém acreditava. Há três meses não tínhamos certezas".
A sondagem à boca das urnas, divulgada pela tvn24 e preparada pela Ipsos, dá ao PiS 36,8% e 200 dos 460 assentos no parlamento polaco, seguido pelos liberais da PO (31,6% e 163 lugares).
Atrás estão a Terceira Via (conservadores), com 13% e 55 lugares, e o Lewica (Esquerda), com 8,6% e 30 mandatos.
Os ultranacionalistas radicais da Confederação (extrema-direita), que poderiam viabilizar um executivo do PiS, não foram além dos 6,2% e de 12 lugares.
Provável "geringonça polaca"
Em sinal contrário ao clima de euforia entre os partidários da PO, num ambiente mais contido, os seguidores do PiS saudaram o triunfo eleitoral com um amargo de boca oferecido pela provável "geringonça polaca".
"É a nossa quarta vitória numa eleição parlamentar e a terceira consecutiva. É um grande sucesso para o nosso partido e para o nosso projeto para a Polónia", declarou Jaroslaw Kaczynski, entre aplausos efusivos em sinal de que o trabalho foi feito mas que soam a despedida.
"A questão que permanece é se este sucesso se refletirá num novo governo nosso e ainda não sabemos, mas devemos ter esperança e saber que, quer estejamos no poder ou na oposição, defenderemos este projeto de qualquer forma que quisermos", proclamou o dirigente histórico dos conservadores populistas, acrescentando que o seu partido não permitirá "traições à Polónia, nem que a Polónia perca o que há de mais valioso na nação, a sua independência".
No X (antigo Twitter), o primeiro-ministro, Mateusz Morawiecki, escreveu que o "Lei e Justiça é o vencedor das eleições parlamentares de 2023", mas o seu rosto denunciava o desalento.
A participação, segundo as projeções, deverá situar-se acima dos 73%, o que, a confirmar-se, deverá ser um recorde no país.
Nas últimas legislativas, realizadas em 2019, a participação foi de 61,7%, mas este domingo, nas atualizações da Comissão Eleitoral Polaca, às 12 horas e 17 horas locais, era claro que a participação iria subir substancialmente, enquanto os diretos televisivos exibiam longas filas nas assembleias de voto em Varsóvia e outras grandes cidades.
De resto, quando os líderes das principais forças partidárias começaram a falar aos seus apoiantes e ao país, ainda havia filas assinaláveis em muitas assembleias de voto.
Em contraste com a participação nas legislativas, os 30 milhões de eleitores polacos foram igualmente chamados a votar em quatro referendos, mas todos deverão ser declarados inválidos, uma vez que, de acordo com as sondagens à boca das urnas, não foram além de 40% de participação, ficando aquém dos 50% necessários para serem vinculativos.
Em causa estavam duas perguntas sobre a política de imigração e asilo, em oposição ao pacto migratório aprovado pela União Europeia, e sobre o muro erguido na fronteira com a Bielorrússia, a subida da idade da reforma para os 67 anos e a privatização de ativos estatais.
Após amplo ruído sobretudo no alarmismo colocado em torno do debate sobre migração, a oposição apelou ao boicote nos referendos.
Oito anos de domínio absoluto do PiS
Estas foram as eleições mais divididas dos últimos anos na Polónia, após oito anos de domínio absoluto do PiS e uma postura de resistência e desobediência às determinações da UE e acusações de interferência no poder judicial e nas forças armadas e ainda de uma política musculada e alarmista em relação à imigração.
A oposição propôs em alternativa o desanuviamento com Bruxelas, que congelou a transferência de fundos comunitários para Varsóvia por desvios ao Estado de Direito, e com os países vizinhos, mas também das normas rígidas em matérias de imigração, aborto e comunidade LGBT+.
A noite eleitoral encerrou com amplos espaços de comentário na TVN24, numa mesa composta por bules de chá e travessas de bolos e fruta, antecedendo o começo de uma maratona negocial política na segunda-feira, de forma a garantir que os resultados obtidos pela oposição se convertam em solução governativa a apresentar ao Presidente da República, Andrzej Duda, proveniente do PiS.
Cerca de 30 milhões de eleitores escolheram hoje 460 deputados e 100 senadores em 41 distritos eleitorais. Os partidos que obtiveram menos de 5% dos votos e as coligações com menos de 8% de apoio ficam sem representação parlamentar.