Nos últimos cem anos, apenas duas mulheres foram executadas pelo Governo federal. A terceira enfrentará o mesmo fim esta terça-feira.
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Ethel Rosenberg, 37 anos, condenada à morte na cadeira elétrica por espionagem. Bonnie Brown Heady, 41, condenada à morte na câmara de gás por assassinato. Lisa Montgomery, 52, condenada à morte por injeção letal por assassinato. Estas são as três mulheres que passaram pelo corredor da morte do sistema federal nos últimos cem anos da História norte-americana. Rosenberg e Heady foram executadas em 1953. Montgomery deverá ser executada hoje e, a cumprir-se, será a primeira mulher, nos últimos 67 anos, a morrer às mãos do Governo federal. Esta terça-feira de manhã, um juiz suspendeu a execução.
Esta condenação tem levantado muita discussão nas comunidades norte-americana e internacional, que querem ver a pena de morte de Lisa transformada em prisão perpétua, alegando que os traumas de violência e violação que sofreu enquanto jovem danificaram "severamente a sua saúde mental". Todavia, o sistema judicial parece não ceder aos pedidos de clemência.
A urgência em apressar execuções federais fez de Donald Trump, presidente cessante, o líder mais prolífico dos últimos cem anos, dado que, sob a sua Administração, já foram executadas dez pessoas. Até 20 deste mês, dia em que Joe Biden, presidente eleito, toma posse, deverão ser executados mais três condenados.
Há 67 anos, a mesma frieza de processos foi adotada com as outras duas executadas e nenhum tribunal mostrou benevolência para com as criminosas. Recuando a 1953, chegamos à primeira condenação desde que o "Federal Bureau of Prisons", agência federal subordinada ao Departamento de Justiça, tem registos - a de Ethel Rosenberg.
Natural de Manhattan, em Nova Iorque, Ethel aspirava a ser atriz e cantora, mas não conseguiu ter sucesso. Descendente de uma família judia tradicional, acabou por aceitar um emprego numa empresa de navegação. Foi aí que teve o primeiro contacto com a Liga Jovem Comunista, onde acabaria por conhecer o marido, Julius Rosenberg, que trabalhava como engenheiro-inspetor nos Laboratórios de Engenharia do comando do Exército dos Estados Unidos.
Julius acabaria por levar Ethel para um jogo de vida dupla. Os Estados Unidos viviam os primeiros anos da Guerra Fria e a tensão política entre norte-americanos e russos escalava.
Rosenberg havia sido recrutado pela Rússia para espiar para o Ministério do Interior da União Soviética e terá fornecido milhares de relatórios confidenciais, além de ter recrutado outras pessoas para espiarem para o Exército soviético, como o irmão de Ethel.
poucas provas
As autoridades norte-americanas descobriram a trama, digna de um romance, e, em 1950, Ethel acabou embrulhada nas histórias do marido. Foi acusada de passar ao Exército russo informações sobre a bomba atómica. As provas contra a espia eram escassas e a sentença foi baseada apenas em algumas anotações. Ambos foram condenados à morte em 1951. Ethel morreu cerca de dois anos depois do julgamento, na prisão de Sing Sing, em Nova Iorque.
Se a condenação de Ethel levantou várias dúvidas por não haver provas suficientes do seu crime, já a de Bonnie Heady foi perentória: havia culpa no cartório e foi executada dois meses depois da condenação.
Também ela participou no crime em dupla. Em setembro de 1953, Bonnie Heady e Carl Hall raptaram Bobby Greenlease, de seis anos, de uma escola no estado do Kansas. Ambos eram viciados em álcool e drogas e viviam juntos no Missouri. Na ânsia de conseguir dinheiro, Hall planeou raptar o filho de Robert Greenlease, multimilionário que havia conhecido na escola militar.
Heady conseguiu entrar na escola da criança e convencer uma freira de que era sua tia. Depois, Hall matou o pequeno a tiro.
Após o assassinato, o casal exigiu ao pai de Bobby um resgate de 600 mil dólares. Greenlease, sem saber da morte e na esperança de salvar o filho, deixou a Polícia e o FBI às escuras e pagou. Hall e Heady recolheram o resgate e fugiram.
O FBI acabaria por deter o casal depois de uma denúncia de um taxista que identificou Hall, que confessaria o envolvimento de Bonnie. Nas mãos das autoridades, a mulher admitiu ter ajudado Hall no pedido de resgate, bem como ter ido à escola. Ambos foram considerados culpados e executados na câmara de gás.
Entre 1970 e 1990 e entre 2003 e 2019, nenhuma pessoa foi executada por crimes federais. Após um hiato de 16 anos, o ainda presidente norte-americano começou a apressar o cumprimento das condenações. Lisa será a próxima.