Conservadora foi a líder que esteve menos tempo no cargo de chefe do Executivo britânico. Sucessor será conhecido dia 31 de outubro.
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Um dia antes marcou presença na Câmara dos Comuns intitulando-se como "lutadora" e assegurando que a demissão não era opção. Mas pouco mais de 24 horas depois, a pressão dos deputados - e até mesmo dos Tories - foi mais forte e levou a que Liz Truss, agora a primeira-ministra britânica que esteve menos tempo no cargo (45 dias), batesse com a porta de Downing Street.
"Cumprimos as propostas da despesa energética e cortámos o seguro nacional", louvou em frente ao número 10. Ainda assim, não descartou a esperada 'mea culpa': "Dada a atual situação, não posso cumprir o mandato para o qual fui eleita".
Ao fim de quase dois meses de uma liderança conturbada, os Tories terão de voltar a escolher um líder que, consequentemente, se tornará no próximo primeiro-ministro do país. Numa altura em que o Reino Unido se encontra mergulhado numa crise financeira sem precedentes - ainda que o anúncio da saída de Truss tenha resultado numa ligeira subida da cotação da libra esterlina - o presidente do Comité 1922, Jake Berry, destacou a importância de encontrar um novo líder o mais rapidamente possível. A votação, que deverá contar com os votos dos militantes do Partido Conservador, vai ser realizada até dia 28 de outubro e o novo rosto do poder será conhecido no último dia do presente mês.
A decisão da sucessora de Boris Johnson, que também se demitiu em julho passado, surge na sequência de um novelo de acontecimentos que a encaminharam a este desfecho. Em conjunto com Kwasi Kwarteng, ex-ministro das Finanças do leque governativo de Truss, a chefe do Executivo traçou um "mini-orçamento" que depois teve de ser reconsiderado. A necessidade de fazer cortes nos impostos - algo que a "dama de ferro" sempre disse que estava fora de questão - constituiu uma razão para a contestação da oposição. No seguimento dos "erros" no plano, seguiu-se a substituição da Tutela das Finanças e, ontem, a queda de mais uma bomba em Westminster foi a gota de água: também a ministra do Interior, Suella Braverman, deu sinais de insatisfação e retirou-se da liderança do Ministério.
Aos olhos dos trabalhistas, a falta de consenso no núcleo dos conservadores demonstra que não há condições para eleger internamente um novo primeiro-ministro. Keir Starmer, líder do Partido Trabalhista, defende que a chefe de Governo demissionária deverá convocar eleições gerais, dando oportunidade aos cidadãos de decidirem os destinos do país.
"O povo britânico merece ter uma palavra a dizer no futuro do país", pode ler-se no comunicado partilhado nas redes sociais. A convocação de uma votação antecipada, no entanto, não é bem vista pelos Tories, já que as sondagens dão uma larga vantagem aos trabalhistas.
Com este cenário fora do horizonte, na imprensa britânica vão surgindo nomes de conservadores que poderão assumir a governação de Londres. Rishi Sunak, que quase chegou a líder dos Tories no último escrutínio interno, perdendo para Liz Truss, é agora o favorito ao cargo. Penny Mordaunt, Ben Wallace e até Boris Johnson também são figuras apontadas. Já Jeremy Hunt, eleito ministro das Finanças há precisamente uma semana, revelou que não se vai candidatar à liderança do partido, esperando-se que continue nas rédeas da Tutela.
O caos político no Reino Unido traz uma oportunidade ao rei Carlos III, que também assumiu o trono há pouco mais de um mês, após a morte de Isabel II. O monarca será responsável por indigitar o próximo primeiro-ministro do país, o que segundo a Enciclopédia Real é uma das poucas prerrogativas que restam ao soberano".