As autoridades da Califórnia, nos Estados Unidos, estão à caça de uma lontra marinha, de cinco anos, que anda a roubar pranchas de surf na praia de Santa Cruz.
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Vários surfistas de Santa Cruz, na Califórnia, têm sido vítimas de um crime a que chamam "boardjacking" (roubo de pranchas). A atacante é uma lontra marinha fêmea de cinco anos, conhecida como Lontra 841, que ataca os surfistas, agarrando e danificando as pranchas.
As autoridades locais revelaram, na segunda-feira, que irão por fim à situação. "Devido ao risco para a segurança pública, uma equipa do C.D.F.W. e do Aquário da Baía de Monterey, especializada na captura e no tratamento de lontras marinhas, foi destacada para a tentar capturar e realocar", afirmou um porta-voz do Departamento de Pesca e Vida Selvagem da Califórnia, em comunicado, citado pelo "The New York Times".
As lontras marinhas, na Califórnia, são uma espécie ameaçada, sendo que restam apenas cerca de 3000 animais, muitos deles em zonas frequentadas por canoístas, surfistas e praticantes de paddle.
Apesar desta proximidade, as interações entre lontras marinhas e seres humanos continuam a ser raras. De acordo com Tim Tinker, ecologista da Universidade da Califórnia em Santa Cruz, regra geral, a espécie tem medo das pessoas. Uma lontra marinha que se aproxima de um humano "não é normal", acrescenta. Isso só acontecerá durante picos hormonais que coincidem, por exemplo, com a gravidez, como resultado de serem alimentadas ou por serem abordadas continuamente por pessoas.
A Lontra 841 foi criada pela mãe até ao desmame e, depois, foi transferida para o Aquário da Baía de Monterey. Os tratadores tomaram medidas para evitar que a lontra criasse associações positivas com humanos, incluindo o uso de máscaras e ponchos que lhes escureciam a aparência quando estavam perto dela.
No entanto, 841 perdeu rapidamente o medo, embora os especialistas não consigam explicar porquê. "Após um ano de vida selvagem sem problemas, começámos a receber relatos das interacções com surfistas, canoístas e praticantes de paddle", relatou Jessica Fujii, gestora do programa de lontras marinhas do Aquário da Baía de Monterey. "Não sabemos porque é que isto começou", acrescentou.
Lontra já atacou três pranchas
A lontra foi vista a roubar pranchas de surf em três ocasiões diferentes. Na segunda-feira, Joon Lee, de 40 anos, estava a surfar em Steamer Lane, um local de surf popular em Santa Cruz, quando a 841 se aproximou: "Tentei remar, mas não consegui ir muito longe antes de ela me arrancar o leash", disse. Lee abandonou a prancha e ficou vê-la ser destruída pelo animal. "Tentei tirá-la ao virar a prancha e empurrá-la para longe, mas a lontra estava tão fixada que, por alguma razão, continuou a atacar", contou.
No mês passado, Noah Wormhoudt, de 16 anos, estava a surfar com um amigo na Cowell's Beach, em Santa Cruz, quando a 841 se aproximou. "Comecei a remar para longe, para tentar evitá-la, mas ela estava cada vez mais perto. Saltei da prancha e, depois, ela saltou para cima dela", recorda. "Parecia amigável, por isso ficámos à vontade com ela. Foi uma experiência muito fixe".
O contacto entre humanos e lontras é perigoso para ambos. Gena Bentall, diretora e cientista sénior da Sea Otter Savvy, explica que as lontras têm "dentes afiados e mandíbulas suficientemente fortes para esmagar amêijoas", podendo lesionar facilmente uma pessoa. E, no caso de um ser humano ser mordido, o Estado não tem outra opção senão matar o animal. Com tão poucas lontras marinhas, a perda de um único indivíduo é um obstáculo à recuperação da espécie.