Antes da invasão, José Múcio descreveu acampamento de bolsonaristas como "demonstração de democracia".
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Quase uma semana após o ataque às sedes dos três poderes, em Brasília, surgem novos detalhes sobre quem serão os principais responsáveis pelo ato de desordem. O presidente lamentou a atuação do ministro da Defesa, José Múcio, e realçou que o governante subestimou as ameaças dos bolsonaristas, trazendo ao de cima a responsabilização de uma nova figura que, ainda assim, não pretende demitir. A Polícia Federal (PF), por sua vez, teve acesso a uma peça-chave para a investigação. Já a Advocacia-Geral da União (AGU) pediu o bloqueio dos bens de mais de meia centena de indivíduos e empresas.
Lula da Silva criticou, esta quinta-feira, a facilidade com que os invasores entraram na sede do poder Executivo, atribuindo culpas, por falta de ação, não só a José Múcio como ao ministro-chefe do Gabinete da Segurança Institucional, o general Gonçalves Dias. Apesar de várias figuras do Partido Trabalhista terem pressionado o responsável da Tutela a demitir-se, o líder segurou a posição de Múcio: "Todos cometemos erros", assinalou.
Poucos dias antes do ataque, revela o portal G1, o ministro da Defesa chegou a dizer que o acampamento em Brasília era "uma demonstração de democracia", apontando ainda que tinha familiares a participar nas manifestações que pretendiam destituir o chefe de Estado. Múcio terá ainda sugerido ao Governo fazer uma negociação com os bolsonaristas. O presidente, porém, desvalorizou as declarações. "Quem coloca ministro e tira ministro é o presidente", frisou, esclarecendo que não vão ser feitas mudanças no Executivo recém-formado.
Múcio, que é ex-deputado federal, foi escolhido por Lula para a pasta da Defesa por ter um perfil moderado. Entre as funções que deve desempenhar está a interlocução do Governo com os militares, que contam com fações próximas ao ex-presidente Bolsonaro, mas foram as falhas nesta ligação que o colocaram no olho do furacão.
Uma das preocupações de Lula é agora perceber de que forma os invasores entraram no Planalto. Para o petista, "muita gente" da Polícia Militar e das Forças Armadas foi "conivente" com os bolsonaristas e deixou claro que haverá uma "triagem profunda" dentro das forças de segurança responsáveis por proteger o Planalto.
A ponta do icebergue
No mesmo dia, a PF encontrou na casa de Anderson Torres, ex-ministro da Justiça de Bolsonaro, uma minuta para o então presidente decretar estado de defesa na sede do Tribunal Superior Eleitoral, de modo a reverter o resultado das eleições. As autoridades estão a investigar as circunstâncias da elaboração da proposta, poucos dias após o antigo secretário de Segurança do Distrito Federal ter sido notificado para prisão.
A AGU, por sua vez, pediu à Justiça o bloqueio de 6,5 milhões de reais (cerca de 1,18 milhões de euros) em bens de 52 pessoas e sete empresas que terão financiado os autocarros que levaram os apoiantes extremistas até à Praça dos Três Poderes. O valor do bloqueio é preliminar, uma vez que os prejuízos ainda não foram integralmente calculados.
À MARGEM
Sondagem
Apesar de a investigação sobre o ataque ao Congresso, Planalto e Supremo Tribunal ainda estar a decorrer, uma sondagem da Datafolha indica que 55% dos brasileiros consideram que o ex-presidente Jair Bolsonaro tem responsabilidade nos atos violentos.
Comunicado
Dezenas de congressistas norte-americanos e brasileiros condenaram os "atores autoritários e antidemocráticos da extrema-direita" que têm atacado a democracia e as instituições democráticas de ambos os países.