O antigo Presidente brasileiro Lula da Silva disse, no sábado, que, quando da sua prisão em abril de 2018, poderia ter-se refugiado numa "embaixada, ou noutro país", mas decidiu entregar-se para provar "a mentira" contra si.
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"Muitos de vocês não queriam que eu fosse preso, eu tive de vos persuadir a entender o papel que eu tinha de cumprir. Vou repetir o que disse naquele dia [da prisão]: quando um ser humano, tem clareza do que quer na vida, do que representa e tem a certeza do que os seus acusadores estão a mentir, então decidi entregar-me na Polícia Federal naquele dia", declarou Lula da Silva.
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O antigo chefe de Estado do Brasil falava a uma multidão de apoiantes, em São Bernardo do Campo, no estado de São Paulo.
"Eu podia ter ido para uma embaixada, a outro país, mas fui para lá, para provar que o juiz Moro [atual ministro da Justiça] era um canalha que me estava a julgar, para provar que o procurador Deltan Dallagnol não representa o Ministério Público, que é uma instituição pública, montou uma quadrilha com a Lava Jato", acrescentou.
E o antigo Presidente frisou: "Se eu saísse do Brasil ia ser tratado como fugitivo, (...) mas decidi enfrentar as feras".
Rodeado por aliados, como o ex-candidato pelo Partido dos Trabalhadores (PT) às presidenciais do ano passado, Fernando Haddad, pela presidente do PT, Gleisi Hoffmann, o líder do PT na Câmara dos Deputados, Paulo Pimenta, e pela sua namorada, Rosângela Silva, Lula subiu a um palco para falar a milhares de apoiantes que o aguardavam na sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo.
O antigo chefe de Estado brasileiro, de 74 anos, que deixou na sexta-feira a cadeia em Curitiba, após 580 dias preso, declarou que se "preparou espiritualmente para não ter ódio" dos que o acusaram.
"Eu tinha uma missão. Fiquei numa solitária e durante 580 dias preparei-me espiritualmente para não ter ódio, para não ter sede de vingança, para não odiar os meu algozes, porque eu queria provar que, mesmo preso por eles, eu dormia com a consciência mais tranquila do que a deles", vincou.
Luiz Inácio Lula da Silva, que governou o Brasil entre 2003 e 2010, viu a sua libertação decidida por um juiz em menos de 24 horas após uma decisão do STF, na quinta-feira, ter alterado a jurisprudência e proibir a prisão após condenação em segunda instância dos réus que recorrem para tribunais superiores.
O histórico líder do Partido dos Trabalhadores (PT) foi preso após ter sido condenado em segunda instância pelo Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF-4), num processo sobre a posse de um apartamento, que os procuradores alegam ter-lhe sido dado como suborno em troca de vantagens em contratos com a estatal petrolífera Petrobras pela construtora OAS.
"Cá estou eu, livre como um passarinho, durmo toda a noite, com a consciência tranquila dos homens justos e honestos. Duvido que o Moro e Dallagnol durmam tranquilos como eu. Duvido que Bolsonaro [atual Presidente] durma com a consciência tranquila como eu, que o ministro Guedes [da Economia], destruidor de sonhos e de empregos, durma de consciência tranquila", declarou Lula da Silva.
O antigo Presidente reforçou que "está de volta", não querendo "vingança", mas a "reconstrução do Brasil, com a mesma alegria de antes".
"A minha vida está bloqueada, mas estou com mais coragem de lutar do que quando saí daqui. Lutar para tentar recuperar o orgulho de sermos brasileiros, para que as mulheres possam levar os filhos no mercado e comprar o suficiente para comerem, lutar para que o trabalhador possa ir ao cinema, ao teatro, ter carro, televisão, telemóvel, de ir ao restaurante, e de poder reunir a família todo o fim de semana", prometeu.
Lula da Silva anunciou que, após sair da cadeia pretende participar em grandes viagens pelo país, as famosas "caravanas", para aumentar a sua popularidade e incorporar a oposição ao Presidente do país, Jair Bolsonaro.