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Lula da Silva, o ex-presidente do Brasil que escapou à pobreza, foi metalúrgico e sindicalista e se tornou símbolo dos trabalhadores, anunciou este sábado que vai entregar-se à justiça, que o condenou a 12 anos e um mês de prisão por corrupção. Conheça o perfil.
O filho pródigo do nordeste pobre brasileiro deixou o cargo de presidente em 2011, depois de oito anos de mandato sempre com elevados índices de popularidade: quando saiu de Brasília, Lula da Silva tinha o apoio de 87% dos brasileiros.
A transferência de poder para Dilma Rousseff (presidente entre 2011 e 2016), sua afilhada política, foi para Lula da Silva a conclusão de uma vida de dificuldades e incógnitas, a começar pelo próprio dia do nascimento: embora tenha sido registado a 6 de outubro de 1942, a mãe garante que a criança só nasceu a 27 desse mês.
O pai, Aristides da Silva, era um camponês alcoólico e analfabeto que teve 22 filhos de duas mulheres, primas entre si: Lindu, mãe de Lula, e Valdomira.
Aristide fugiu com Valdomira da aldeia de Vargem Grande e foi para São Paulo. Lindu, deixada para trás na miséria, agarrou nas crianças e meteu-se num camião e viajou três mil quilómetros para Santos, onde, aos cinco anos, Lula já vendia tapioca e laranjas e aí conheceu o pai.
Em 1956, o que viria a ser presidente terminava a escola primária e três anos como torneiro mecânico. Em 1960, entra para o Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo, tendo subido até à liderança, de onde liderou o maior movimento operário da história do Brasil, afundado nos dias difíceis da ditadura.
Marxista por convicção, em 1980, aproveita a liberdade política entretanto conquistada no Brasil e funda o Partido dos Trabalhadores (PT), que nasceu trotskista mas que, com o passar dos anos e com Lula a render-se ao capitalismo, havia de situar-se no centro-esquerda.
Lula da Silva foi candidato presidencial em 1989, 1994, 1998 e, finalmente, em 2002, ganhou a corrida à Presidência do Brasil.
Em vez de descamisado e com o punho erguido a gritar "revolução", como nas eleições anteriores, Lula da Silva apresentou-se de fato e gravata, defendendo "paz e amor", e lembrando as suas origens para conquistar o coração dos eleitores.
A primeira grande iniciativa política foi levar os ministros para fora do gabinete, mostrando a face africana do Brasil e expondo a pobreza do interior do país: era preciso que os nascidos em berço de ouro "sentissem o cheiro da pobreza".
Com uma política económica ortodoxa, não teve praticamente oposição nos primeiros dois anos de mandato, durante os quais as suas preocupações sociais escondiam a falta de realizações políticas.
É nessa altura que é 'apanhado' no primeiro escândalo de corrupção (Mensalão) que decapita a liderança do PT. Lula da Silva, pragmático, distancia-se do seu partido e vai a votos com o apoio do centro e direita, ganhando novamente a eleição de 2006.
O segundo mandato é suportado por uma ampla, mas dissonante coligação, o que dificulta a ação política, mas que Lula considera fazer parte da vida devido à "correlação de forças políticas".
Fora do Brasil, no virar do milénio, Lula é o homem do momento: em 2008, a "Newsweek" diz que é uma das 20 pessoas mais influentes do mundo e, em 2009, o francês "Le Monde" e o espanhol "El País" consideram-no "Homem do Ano".
Depois de deixar o poder a Dilma Rousseff em 2011, Lula da Silva criou um instituto com o seu nome e usou a sua popularidade para fazer o chamado "circuito das palestras", muitas delas pagas por empresas que agora também estão sob investigação judicial.
Em março de 2016, um novo capítulo começou na vida do ex-presidente, quando foi preso pela Polícia Federal. Lula da Silva foi levado da sua casa, na periferia de São Paulo, para depor na polícia, na altura suspeito de ter enriquecido ilegalmente com a corrupção na Petrobras, num esquema de fraude e lavagem de dinheiro que atravessa a elite política brasileira e que está a ser investigado no âmbito da Operação Lava Jato.
