Edwin Teixeira, de 26 anos, está detido, desde quinta-feira, em Caracas, na Venezuela. Ao JN, a irmã revela que o lusodescendente foi agredido pela Guarda Nacional e está sem ver a família há quatro dias.
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A passada quinta-feira foi marcada por cenas de violência nas ruas de Caracas. Morreram três pessoas, várias ficaram feridas e 82 foram detidas. Edwin Teixeira saiu de casa para ir ao centro comercial, onde iria depositar um cheque, e nunca mais voltou.
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"Como não conseguiu entrar no centro comercial, estava a voltar para casa quando foi apanhado por quatro guardas que circulavam em duas motas ", descreve Sandra Teixeira, lusodescendente de 30 anos.
Após largas horas sem conhecer a localização de Edwin, foi através das redes sociais que os familiares conseguiram perceber onde o parente estava. "Colocamos uma fotografia na Internet e as pessoas que estavam no local onde ele foi detido identificaram-no", explica.
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De acordo com testemunhas, Edwin foi "atirado contra a parede", enquanto os guardas "disparavam tiros para o ar".
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"Nesse dia, não foi para a manifestação. Ia depositar um cheque quando aquilo aconteceu. Não se percebe tamanha violência", lamenta a irmã.
Detido e sem contacto com a família
As informações sobre o que se passou a seguir à detenção são escassas. Tudo o que a família sabe foi conseguido de quem assistiu à detenção de Edwin. O marido de Sandra, que é advogado, foi à prisão para onde Edwin foi levado, em El Paraíso, Caracas, mas não conseguiu encontrar-se com o jovem. "O meu marido levava comida, mas nem isso deixaram entregar", revela Sandra.
A família apenas conseguiu ver Edwin na sexta-feira. Juntamente com outros detidos, foi julgado por um tribunal militar e condenado a prisão em Ramos Verdes, o mesmo estabelecimento em que o líder da oposição Leopoldo Lopez esteve preso. Sobre Edwin incidem cinco acusações: traição à pátria, terrorismo, roubo de armamento militar, rebelião e violência.
Sandra é perentória em afirmar que o irmão "é inocente de todas as acusações" e revela as marcas de violência. "Tinha vários ferimentos nas mãos e na cabeça porque lhe bateram para o obrigar a denunciar outras pessoas. Os guardas nem o deixaram comer desde o dia em que foi detido", revela a professora de português
Ewdin encontra-se numa sala com mais 46 pessoas e só o advogado o pode visitar. "Já fizeram as provas da acusação no domingo e ainda não nos disseram nada. Mas temos a certeza de que é tudo falso, porque ele não estava na manifestação", explica.
Clima de terror assusta comunidade portuguesa
O ambiente nas ruas de Caracas é assustador e são cada vez mais os membros da comunidade portuguesa que abandonam a Venezuela. Sandra e Edwin são filhos de um casal de madeirenses, de Câmara de Lobos e Ponta do Sol, e são muitos os amigos da família que já abandonaram o país.
Crianças e mulheres são os primeiros a sair da Venezuela, ficando os homens. Ao contrário do que acontecia na guerra, "são os homens que ficam nas casas para tomar conta do trabalho de uma vida" e "o único apoio visível é do consulado, que tem sido incansável".
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"Quando saímos de casa, ficamos sempre na dúvida se vamos voltar. A polícia está numa loucura e já não distingue homens de mulheres", conta. Para esta semana está marcada uma greve geral de 48 horas e as expectativas não são as melhores: "Eles vão estar ainda mais nervosos e não sabemos o que pode acontecer".
No domingo, há eleições para escolher os responsáveis por elaborar a nova Constituição. A oposição é contra o processo e acredita que se trata de uma estratégia do presidente Nicolás Maduro para se perpetuar no poder.