Protestos contra salários baixos, que se estendem há mais de um mês em Dhaka, cada vez mais violentos. Trabalhadores da indústria têxtil violentamente espancados pelas forças de segurança.
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As negociações sobre um novo salário mínimo para os trabalhadores do setor têxtil no Bangladesh provocaram manifestações em massa que há mais de um mês inundam as ruas da capital. Sendo um dos maiores produtores mundias de vestuário, grande parte da população trabalha na indústria têxtil, que tem um dos salários mínimos mais baixos do mundo – cerca de 66 euros.
O Governo anunciou um aumento da remuneração mensal para cerca de 104 euros, porém, o valor continua aquém dos 191 euros que os trabalhadores exigem. Este anúncio foi o ponto de ignição para a revolta de milhares, tendo os proprietários dos polos industriais e a polícia respondido aos protestos com violência e ameaças de encerramento e retenção de salários. Desde então, já morreram quatro pessoas, 150 fábricas fecharam indefinidamente como medida preventiva e mais de 70 foram saqueadas ou vandalizadas.
“No momento em que atravessei os portões da fábrica, um grupo de homens armados começou a espancar-me com paus de madeira”, relatou Masuma Akhtar, trabalhadora da Dekko Knitwears, ao jornal britânico “The Guardian”. Os autores dos ataques procuram sobretudo as mãos e os braços das vítimas, impossibilitando-as posteriormente de trabalhar e obter rendimentos. "Não sei como vou sobreviver ao resto do mês”, desabafou Akhtar, cujo braço foi partido durante a agressão.
A Associação de Fabricantes e Exportadores de Vestuário do Bangladesh intimou todos os trabalhadores, sob possibilidade de despedimento, a cessar as manifestações. A entidade comercial apelou ainda à suspensão do recrutamento nas fábricas, dificultando assim, a quem fosse despedido, conseguir arranjar um novo trabalho em outro local.
“Podem ameaçar-nos e espancar-nos, mas não compreendem que não temos nada a perder. Se aceitarmos a proposta salarial ridícula, morremos à fome de qualquer maneira”, disse Naima Islam, trabalhadora na Columbia Garments, ao “The Guardian”. "Não pedimos muito. Esta indústria é construída sobre as nossas costas, o mínimo que merecemos é o mínimo para sobreviver”, afirmou Islam, um dos milhares de manifestantes.
Desde o ínicio dos tumultos, estima-se que a polícia emitiu cerca de 18 mil boletins de ocorrência contra trabalhadores fabris por estarem presentes nos protestos. Este facto, além de ser visto como uma tentativa de suprimir o movimento, é temido pelos sindicalistas por poder conduzir a uma onda de detenções em massa. "O Governo do Bangladesh deve garantir que os trabalhadores possam exercer os seus direitos à liberdade de associação e à negociação colectiva sem medo de violência, represálias ou intimidação”, sublinhou Nazma Akter, presidente do sindicato Sommilito Garments Sramik Federation.

