As medidas de proteção contra cheias de Macau "não resultaram" e durante o tufão Hato, o mais forte em 53 anos, 29% da área da cidade ficou inundada.
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Apesar de Macau ter avançado com algumas obras em 2014 para evitar inundações na zona baixa do Porto Interior, e terem sido colocadas placas ou portas de proteção, "o resultado foi muito fraco e, de acordo com o nível da maré no tufão Hato, 29% da área de Macau foi inundada", disse o diretor dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT), Li Canfeng.
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Os dados ainda não são finais, já que algumas estações de medição avariaram, mas estima-se que as águas tenham subido até aos 5,5 metros no Porto Interior. "As obras que fizemos não resultaram nada. Temos de acelerar as obras para travar a maré", afirmou o mesmo responsável.
Até porque, comentou, durante o tufão Hato, que atingiu a cidade no dia 23, "não houve grande precipitação (...) Se houver, como é que é?", questionou durante uma conferência de imprensa.
Macau tem atualmente uma barreira com cerca de quatro metros ao longo do Porto Interior, mas também este "dique não foi suficiente", disse o responsável.
A diretora dos Serviços de Assuntos Marítimos e de Água (DSAMA), Susana Wong, veio reforçar a ideia: "Com o Hato, o 'storm surge' [subida no nível das águas] atingiu 5,5 metros, não era possível evitar inundações na zona".
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Para combater esta situação o Governo equaciona três soluções, uma a curto prazo, duas a longo.
O primeiro plano, que já estava em estudo antes do tufão, prende-se com a instalação de uma bomba de escoamento de águas pluviais, pensada para o local da "Ponte 23", um dos vários cais do Porto Interior, estruturas que remontam ao tempo da administração portuguesa.
Devido ao valor histórico do imóvel, o Instituto Cultural (IC) emitiu um parecer que, apesar de não se opor à construção da bomba ali, insta à preservação do cais, nomeadamente através da deslocação para outro local.
No entanto, o porta-voz do Governo, Victor Chan, disse que está em causa "uma questão de equilíbrio entre a demolição de património e o interesse público".
O IC, informou, irá "repensar a posição sobre a demolição da 'Ponte Cais 23' e emitir um novo parecer, tendo em conta o interesse público".
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Segundo o vice-presidente do conselho de administração do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM), Lo Chi Kin, esta bomba de drenagem iria permitir escoar 14550 litros de água por segundo, enquanto que sem ela só é possível escoar cerca de oito mil litros. No entanto, o mecanismo não funciona quando o nível das águas subir acima dos diques.
Lo explicou ainda que o "Cais 23" é o local mais indicado por não ter movimento, ao contrário dos outros portos, com frequente passagem de barcos. "A bomba para escoamento de água pode causar instabilidade e perigo para as embarcações", disse.
Em termos de planos de grande envergadura, o Governo estuda a construção de uma barragem e o aumento do dique em torno do porto.
A primeira obra "evitaria a entrada da maré e inundações", mas implica cooperação com regiões vizinhas, já que a comporta ficaria entre Macau e a cidade vizinha de Zhuhai. O projeto está ainda em estudo, mas o Governo espera poder começar a obra em 2019.
Quanto ao dique, tem a vantagem de ser uma questão "interna", mas pode "afetar o canal de navegação, transporte de mercadorias, atividades comerciais da zona, a cultura histórica e a paisagem naquela zona", alertou Li. A ideia é aumentar o muro já existente, de cerca de quatro metros, de modo a ter entre seis e sete metros, o que poderia, por exemplo, bloquear a vista de rio.
Apesar de todos estes planos, o porta-voz do Governo admite que Macau pode não vir a ter estruturas suficientes para uma tempestade particularmente forte. Nesse caso, terá um último recurso: a evacuação.
"Devido às alterações climáticas, este tipo de tempestade radical pode acontecer mais vezes. Caso tudo esteja fora do controlo e não possamos responder, retiramos a população", disse.