O presidente francês, Emmanuel Macron, anunciou a suspensão do projeto de lei constitucional que alargaria o eleitorado da Nova Caledónia para "dar toda a força ao diálogo no terreno e ao regresso à ordem".
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"Decidi suspender o projeto de lei constitucional, que foi votado nos mesmos termos pelas duas câmaras, porque não podemos permitir que a ambiguidade prevaleça neste momento", disse o chefe de Estado francês aos jornalistas no seu primeiro discurso público desde a dissolução do Parlamento, no domingo.
O texto em questão, que foi adotado pelo Senado em abril e pela Assembleia Nacional em Paris em maio, devia ainda ser adotado pelas duas câmaras do Parlamento francês em Congresso antes de 30 de junho.
Com a derrota do seu partido (Renascimento) nas eleições europeias, que levaram o chefe de Estado francês a convocar eleições legislativas antecipadas, marcadas para 30 de junho e 7 de julho, Macron ficou impossibilitado de convocar um Congresso.
O projeto de lei visava o alargamento do eleitorado na Nova Caledónia, congelado desde 2007, a todos os naturais e residentes há pelo menos 10 anos neste arquipélago francês do Pacífico Sul, para as eleições provinciais previstas para o final do ano.
A sua adoção deu origem a violentos tumultos no território insular desde 13 de maio, os piores desde a crise política dos anos 80, que causaram nove mortos, centenas de feridos e danos consideráveis, segundo os últimos números divulgados pelas autoridades.
Os apoiantes da independência consideram que o alargamento pode beneficiar os políticos pró-França e "marginalizar ainda mais o povo indígena kanak", que constitui 41% da população da Nova Caledónia e que há muito pressiona para sair do domínio francês.
Nos últimos dias, o campo pró-independência já tinha tomado nota do fim da controversa reforma eleitoral antes das declarações de Emmanuel Macron na conferência de imprensa de hoje no Pavilhão Cambon Capucines, em Paris.
"Podemos concordar juntos que as eleições europeias terão derrotado a lei constitucional", disse o Partido de Libertação Kanak (Palika) na quarta-feira, acrescentando que "agora o momento deve ser para a reconstrução da paz e de coesão social".
A Nova Caledónia - que possui uma população de 270.000 habitantes - tornou-se francesa em 1853 com o imperador Napoleão III, sobrinho e herdeiro de Napoleão. Tornou-se um departamento ultramarino após a II Guerra Mundial e a cidadania francesa foi concedida a todos os Kanak em 1957.