As sondagens apontam Emmanuel Macron como vencedor do debate de quarta-feira com Marine Le Pen. Um "duelo" de ideias, por vezes "violento", segundo um politólogo francês.
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O centrista pró-europeu Emmanuel Macron foi considerado "mais convincente" do que a rival de extrema-direia, Marine Le Pen, no debate televisivo de quarta-feira, a três dias da segunda volta das presidenciais francesas, indicou uma sondagem.
Um total de 63% dos entrevistados por telefone, no final do debate, considerou Macron "mais convincente", contra 34% que se pronunciou a favor de Marine Le Pen, de acordo com o estudo difundido pela televisão francesa BFMTV.
"Não foi um debate, foi mais um duelo entre adversários que têm projetos radicalmente diferentes e visões da França radicalmente opostas. Como não há nada em comum, tudo se traduziu na rivalidade, na confrontação. Foi um verdadeiro duelo, um combate oral entre estes dois adversários, entre estes dois inimigos", afirmou o politólogo francês Madani Cheurfa, em declarações à Lusa.
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Madani Cheurfa, secretário-geral do Centro de Investigação Política de Sciences-Po (CEVIPOF), em Paris, explicou que "ao contrário de todos os debates precedentes que começaram devagar, este subiu de intensidade desde as primeiras declarações de Marine Le Pen e assim se manteve até ao fim", considerando que foi um "debate agitado, por vezes, violento".
Professor em Sciences-Po, acrescentou que o "debate intenso, duro e, por vezes, cacofónico" foi "revelador do caráter" dos candidatos, com Emmanuel Macron a "manter o sangue frio" face a Marine Le Pen que "por vezes pareceu perder o controlo".
"Houve uma verdadeira diferença entre o discurso de Emmanuel Macron que foi menos tecnocrata e tentou ser mais acessível face a uma Marine Le Pen que tentou destabilizar o adversário e que teve gestos impressionantes, risos de escárnio. Algo a que não estávamos habituados neste tipo de debate presidencial", descreveu.
Os candidatos revelaram, assim, "dois estilos completamente opostos", mas graças ao "sangue frio e autocontrolo", Emmanuel Macron teve uma "estatura mais presidencial", enquanto Marine Le Pen manteve "um estilo completamente diferente que revela uma outra forma de praticar o poder".
Quanto ao impacto sobre o eleitorado indeciso, Madani Cheurfa considerou que "o debate vai confirmar as convicções dos que já apoiam um ou outro candidato", mas "para os indecisos, não chega" nem para uma parte dos eleitores de Jean-Luc Mélenchon que pensa não ir votar no domingo porque, o que "os anima é a rejeição da extrema-direita mas também o que imaginam ser a finança no poder".
"Ainda assim, as pessoas que hesitam em votar Emmanuel Macron - face ao que poderia ser a extrema-direita - puderam ver que Marine Le Pen continua a líder da extrema-direita com uma forma de agressividade no discurso que ela tinha tentado apagar ao longo da tentativa de 'desdiabolizar' o FN", acrescentou.
Um dado que parece confirmar-se na sondagem da BFMTV: Macron foi considerado melhor por 58% dos que votaram, na primeira volta, no conservador François Fillon, terceiro classificado, e por 66% dos que votaram no candidato da esquerda Jean-Luc Mélenchon, quarto na votação.
O politólogo notou, ainda, que Marine Le Pen utilizou a sua conclusão "para atacar Emmanuel Macron", enquanto ele "aproveitou para falar do seu projeto, com algumas tiradas líricas sobre a França, dirigindo-se aos franceses com olhares para a câmara".