Cerca de 472 hectares da capital espanhola integrados em projeto municipal que limita a circulação aos residentes e aos seus convidados - no máximo 20 por mês.
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Os 20 quilómetros que separam Las Tablas, no norte de Madrid, e o bairro de Carabanchel, situado na parte sul da capital, não impedem Carlos Blanco de optar pela bicicleta como meio de transporte para se deslocar para o trabalho todos os dias. Já tem o percurso bem estudado: repete-o há 13 anos, chova ou faça sol, demorando em média uma hora. Incidentes com automobilistas já teve alguns, pelo que espera que, de agora em diante, atravessar Madrid se torne mais fácil com as restrições de trânsito anunciadas para o centro da cidade.
A partir desta sexta-feira, entra em vigor o chamado projeto Madrid Central, uma área de 472 hectares, onde a circulação passará a estar limitada aos residentes e aos seus convidados - no máximo 20 por mês.
A iniciativa, considerada "histórica" pela vereadora do Meio Ambiente da Câmara de Madrid, Inés Sabanés, pretende colocar a capital espanhola na dianteira da luta contra a poluição atmosférica, juntando-se a cidades como Londres, Paris, Milão ou Estocolmo.
Para Carlos, a medida é "corajosa e necessária, tanto por questões de segurança como de saúde", afirma ao JN, destacando que "a bicicleta pode contribuir para acalmar o trânsito".
Velocidade nos 30
Esse é, de resto, um dos objetivos da Câmara de Madrid, liderada por Manuela Carmena, que em outubro lançou um novo regulamento de mobilidade, destinado também a proteger os peões, impondo uma redução da velocidade máxima de 50 para 30 quilómetros por hora em 85% das ruas da capital espanhola.
Mas, se muitos agradecem as novas restrições no trânsito, também há quem mostre preocupação com a acessibilidade ao centro de Madrid, em especial comerciantes ou empresas de transporte e distribuição.
Foi por isso que 40 associações se uniram em torno da plataforma de Afetados por Madrid Central, classificando o plano de Carmena de "inútil, improvisado e inviável".
Outros comerciantes preferem, no entanto, esperar pela implementação do projeto para perceber o impacto que poderá ter nas suas atividades.
Inicialmente, Montse Gallego, presidente da associação Triángulo de la Moda, que agrupa comerciantes grossistas, ficou apreensiva, uma vez que a grande maioria dos seus clientes se desloca de carro - incluindo "muitos procedentes de Portugal" - explica ao JN.
A responsável celebra, por isso, que a Câmara "permita a entrada de veículos que se dirijam a parques de estacionamento", o que deverá limitar o impacto da nova norma junto dos seus negócios. De igual forma, argumenta que "o importante é que haja uma informação clara sobre as mudanças".
Multas a partir de março
De resto, as restrições de trânsito na área de Madrid Central contam com várias exceções: para além dos residentes e dos táxis, poderão continuar a circular os veículos de pessoas com mobilidade reduzida, profissionais de carga e descarga ou aqueles que tenham um veículo considerado não poluente.
A partir de abril, será obrigatório um dístico ambiental, que indica as características dos veículos, sendo que os mais antigos ficarão totalmente proibidos de entrar no centro de Madrid. Quanto às multas, deverão começar a chegar a partir de março, depois de um período inicial de tolerância.
À LUPA
40% é a redução na poluição atmosférica prevista pela Câmara de Madrid com a entrada em vigor das novas normas de mobilidade.
Cidade aberta
O projeto Madrid Central fez-se acompanhar por várias obras, que pretendem tornar a capital espanhola mais "aberta e luminosa".
Gran Vía mudada
Depois de nove meses de obras, a emblemática avenida tem menos espaço para os carros, com a redução de três para duas vias por sentido e o aumento dos passeios.
Mais espaço a peões
Aumentaram as ruas pedonais, com destaque para a rua Carretas, o lado da Puerta del Sol, onde se instalaram também bancos e árvores.