O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, quer que o Supremo Tribunal de Justiça esclareça dúvidas sobre o processo eleitoral, à medida que as suspeitas de fraude crescem em todo o Mundo. Oposição diz violência nas ruas ceifou 16 vidas.
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Nicolas Maduro solicitou ao Supremo Tribunal de Justiça da Venezuela uma auditoria às presidenciais de domingo, para que “esclareça tudo o que houver para esclarecer”. Face à crescente contestação aos resultados divulgados pela comissão eleitoral, que o reconduzem no cargo, o presidente diz-se alvo de uma “tentativa de golpe de Estado”.
As suspeitas de fraude crescem em todo o Mundo, na mesma proporção em que aumenta a repressão sobre manifestantes nas ruas: a oposição diz que a onda de violência ceifou a vida a 16 pessoas.
Falando aos jornalistas à saída do tribunal, Maduro afirmou estar “pronto para apresentar 100% das atas” eleitorais. “Deus está connosco e as provas já apareceram”, acrescentou, horas depois de ter anunciado um comício para este sábado.
A Casa Branca fez saber que a paciência dos Estados Unidos “e da comunidade internacional está a esgotar-se” em relação às falta de transparência e à violência sobre os opositores de Maduro. As Nações Unidas, inclusivamente, referiram-se à “reativação da máquina repressiva”do Governo, enquanto o Peru veio reconhecer a vitória do opositor, Edmundo González Urrutia, a quem a Costa Rica chegou a oferecer asilo político.
O Carter Center, instituição que esteve entre os observadores das presidenciais, afirmou, numa nota oficial, que a eleição “não cumpriu os padrões internacionais de integridade eleitoral e não pode ser considerada democrática”. Fundado pelo antigo presidente dos EUA Jimmy Carter, o organismo acrescentou que, ao não publicarem as atas com os resultados, as autoridades estão a cometer uma "violação grave".
À pressão internacional juntou-se a posição dos ministros dos Negócios Estrangeiros dos sete países mais industrializados do Mundo. O G7 aprovou uma declaração conjunta em que expressa solidariedade para com os venezuelanos e, ao mesmo tempo, pede às autoridades que publiquem “os resultados eleitorais detalhados com total transparência”.
Lula desvaloriza
Apesar de alinhar no mesmo sentido, o presidente do Brasil, Lula da Silva, parece desvalorizar a gravidade da situação no país vizinho. Numa entrevista a uma televisão da cadeia TV Globo, afirmou que “não há nada de grave, nada de assustador” no processo. Nas primeiras declarações públicas sobre o assunto, aventou a hipótese de a oposição avançar com um processo na Justiça, caso haja dúvidas sobre as atas eleitorais, considerando que, a acontecer, será “um processo normal, tranquilo”.
O ainda presidente do México, López Obrador, disse que “não há provas” de fraude. Apesar de apelar à divulgação das atas, aconselhou a oposição a recorrer aos tribunais “se não estiver satisfeita” com os resultados.
Por entre a comunidade portuguesa, várias pessoas confessaram à agência Lusa temer que os protestos venham a afetar o seu quotidiano. É o exemplo de Maria José de Almeida, de 60 anos, que toma conta de um neto: “Já vivemos no passado situações complicadas, com protestos durante três e quatro meses, afetando o nosso trabalho diário”.
Ações coordenadas
“A chave agora são os Estados Unidos, Brasil e Colômbia, que estão a coordenar ações e pretendem que o Governo difunda as atas eleitorais de cada mesa de voto, em vez dos dados agregados que inventaram no domingo à tarde", disse à Lusa Andrés Malamud, investigador do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa.
A Conferência Episcopal Venezuelana também reagiu. Num comunicado, apelou a que “se faça valer a vontade popular expressa nas urnas”, acrescentando que “não se trata apenas de uma exigência da lei venezuelana, mas também de uma exigência ética”.
Símbolos de Chávez
Os símbolos de Hugo Chávez, que liderou a Venezuela desde 1999 até à sua morte, em 2013, são também alvo dos protestantes que reclamam a vitória da oposição. Segundo o jornal “The Guardian”, pelo menos sete estátuas do mentor de Nicolás Maduro foram vandalizadas, tendo algumas sido completamente derrubadas e outras incendiadas. Uma delas tinha mais de três metros de altura.