O momento já tem mais de um ano, mas ganhou novo fulgor nas redes sociais, nos últimos dias. A história de Suzy e Donna, mãe e filha a partilhar os comandos do mesmo avião, está a fazer muitos internautas sonhar com o regresso aos tempos em que se podia viajar sem restrições.
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Filha de pilotos, Donna Garrett cresceu a ver o pai sair para o trabalho de piloto de aviões comerciais. Cresceu a ver a mãe sair para fazer o mesmo. Voar estava-lhe no sangue desde a nascença e foi sem surpresa que escolheu uma carreira na aviação civil.
Em setembro de 2019, a paixão familiar pela aviação sentou mãe e filha ao "cockpit" do mesmo avião, num voo doméstico da companhia norte-americana SkyWest.
Foi há mais de um ano, um momento único para a família Garrett, raro em todo o Mundo: mãe e filha, como piloto e copiloto do mesmo voo comercial. Um momento que voltou a sulcar o etéreo da Internet, nas asas das redes sociais, mais de 12 meses depois de ter descolado.
"Sabíamos que tinha sido realmente especial", disse Suzy Garret, que estava a completar 30 anos ao serviço da SkyWest quando partilhou o "cockpit" com a filha, Donna, para surpresa de muita gente.
"Passageiros, assistentes de voo, pessoal do aeroporto, muitos quiseram tirar fotografias connosco. Isso ajudou a tornar o dia ainda mais especial", recordou Suzy Garrett.
"Fiquei realmente surpreendida com as reações - tal como estou agora por se ter tornado viral. Nunca tinha tirado tantas fotografias, desde o dia do meu casamento", recordou, em declarações à CNN.
O momento, especial para as duas mulheres, é também um marco na história da aviação civil. Um ramo de homens, principalmente brancos, onde as mulheres são raras. Segundo o Gabinete de Estatísticas do Trabalho dos EUA, 92,5% dos pilotos norte-americanas são homens, destes, 93,7% são caucasianos.
Suzy garante que nunca sentiu qualquer tipo de discriminação dos outros pilotos. A desconfiança vem de fora do cockpit. "Tive de conquistar as pessoas, para lá da profissão", comentou, recordando que não são incomuns os "comentários de passageiros e de pessoas no terminal" de aviação quando sabem que o piloto é uma mulher.
E muitas vezes, diz, isso nota-se na cara de surpresa que fazem. Nada que incomode Suzy, uma mulher pequena, com 1,58 metros, que começou a dar azo ao sonho de voar nos anos 80 do século passado, quando a aviação era não só um clube de homens como tinha entrada quase exclusiva a pilotos com formação militar.
"Não era alta os suficiente para entrar na força aérea", contou Suzy. Determinada, inscreveu-se numa escola de aviação para fazer o curso de piloto, em 1984. Trabalhou ainda como instrutora de voo antes de entrar para a SkyWest, em 1989.
Após 30 anos ao serviço da mesma companhia, fez história ao partilhar o cockpit com a filha, Donna, que se juntou à empresa em abril de 2019. "Tenho de ser honesta. Só recentemente percebi quão pioneira tinha sido a minha mãe nesta área", disse Donna Garrett, também em declarações à CNN.
"Cresci a vê-la neste papel e só quando era mais velha, e estava a tentar fazer a minha carreira nesta área, é que percebi como era rara a posição da minha mãe nesta profissão e entendi que o que estava a fazer naquele tempo era verdadeiramente impressionante", sublinhou Donna.
Mãe e filha gostavam de viajar juntas mais vezes, mas a pandemia cortou-lhes as asas. Na memória de ambas ficaram vários voos na costa Oeste dos EUA, em que partilharam o cockpit.
"Nunca tinha tido a oportunidade de voar com um comandante tão experiente", argumenta Donna. "E, sendo minha mãe, temos uma grande base comum, que facilita a comunicação", acrescentou.
Mãe, filha, mas acima de tudo profissionais empenhadas, alerta Suzy, sustentando que no avião os laços familiares ficam fora da cabine.
"Ainda assim, é muito bom olhar e vê-la sentada ao meu lado" reconheceu Suzzy. "Estou muito, muito orgulhosa dela, faz um trabalho fantástico", acrescentou.
A ligação da família à viação civil não se esgota em Suzzy e Donna . Nem o orgulho de mãe, que espera ver o filho, que recentemente tirou a licença de pilotagem, partilhar o "cockpit" com a irmã.
"Seria mesmo fixe ter a Donna como piloto e ele como copiloto no mesmo voo. Talvez eu me sentasse atrás, como passageira", disse Suzy. "Era um sonho tornado realidade", acrescentou.
Um sonho adiado pela pandemia, que retardou a contratação do filho, cujo nome não foi revelado, e que entraria para a SkyWest em 2020.