Ex-presidente norte-americano fala na cimeira de Glasgow e acusa: "A minha geração não fez o suficiente para lidar com esta crise". E disse que os jovens têm razão na frustração que sentem.
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O ex-presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, disse esta segunda-feira que "a maioria dos países falhou" em cumprir as promessas feitas no acordo climático internacional de Paris. Obama, que conduziu a Casa Branca em dois mandatos presidenciais, de 2008 a 2016, falou aos participantes da COP26, a Conferência das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas, que decorre em Glasgow, na Escócia.
Obama, que era o líder dos EUA em 2015, quando o acordo histórico foi instaurado na capital francesa, disse que o mundo precisa de "intensificar" as suas promessas de redução de emissões poluentes e que terá que trabalhar em conjunto para limitar o aumento da temperatura global do Planeta.
"Não fizemos o suficiente para lidar com esta crise", disse Obama aos delegados em Glasgow. "Vamos ter que fazer mais e o que quer que aconteça, ou não, vai depender, em larga medida, de cada um de nós".
Trump estagnou progresso
Nos seis anos desde o acordo de Paris - a resolução visa limitar o aquecimento global entre 1,5 e 2 graus celsius -, as emissões de gases de efeito estufa do aquecimento do Planeta continuaram a aumentar. Um estudo revelado na semana passada concluía que a poluição de carbono vai recuperar este ano para níveis pré-pandémicos, isto é, anteriores a 2019.
"Em algumas medidas, o acordo foi um sucesso", disse Barack Obama. "[Mas] ainda estamos muito longe do ponto onde precisaremos de estar".
O ex-presidente democrata admitiu que "uma parte do nosso progresso estagnou" quando o seu sucessor na presidência norte-americana, o republicano Donald Trump (2016-2020) decidiu retirar unilateralmente os EUA dos acordos de Paris. O presidente Joe Biden, que sucedeu este ano a Trump, voltou a aderir ao acordo assim que assumiu o cargo, ainda em janeiro de 2021.
"Também precisamos que a China lidere"
Obama disse ainda que a China e a Rússia, cujos líderes declinaram o convite para discursar em Glasgow, onde marcam presença mais de 120 chefes de Estado e de governo, mostraram uma "perigosa falta de urgência" nos compromissos climáticos.
"A maioria dos países não conseguiu ser tão ambiciosa quanto deveria ser", disse. "Precisamos de economias avançadas como os EUA e a Europa a liderar esta matéria, mas vocês conhecem os factos. Também precisamos que a China seja líder neste assunto, assim como a Índia ", sublinhou o ex-presidente.
Obama apontou também que o mundo está a atravessar um "momento em que a cooperação internacional diminuiu", mas, diz, "há algo que deve transcender a nossa política quotidiana e a geopolítica normal e isso é a alteração climática do Planeta".
Os EUA são o maior poluidor da história, mas o país assumiu o compromisso de atingir a neutralidade de carbono até ao ano 2050.
Jovens têm razão quando se sentem frustrados
Obama foi muito aplaudido pelos delegados na cimeira COP 26, sobretudo pelos mais jovens ativistas, que filmaram com os seus smartphones o discurso.
"Não é fácil ser jovem nos dias de hoje. Na maior parte das vossas vidas, vocês foram bombardeados com avisos sobre como será o futuro se não abordarem as alterações climáticas", disse Obama. "Enquanto isso, vocês veem muitos dos adultos que estão em posição de fazer algo agir como se o problema não existisse ou recusando-se a tomar as decisões difíceis e necessárias para resolver o problema".
De uma forma mais direta, Barack Obama vincou: "Vocês têm razão quando se sentem frustrados. A minha geração não fez o suficiente para lidar com um problema potencialmente cataclísmico que vocês agora vão herdar", disse Obama, que fez 60 anos em agosto.
Elogio a Greta Thunberg
Seguindo conselhos que a sua mãe lhe dava sempre que ele se sentia triste ou frustrado, Obama aconselhou os jovens: "Não se deixem abater; ocupem-se". "Comecem a trabalhar e mudem o que precisa de ser mudado. Felizmente, é exatamente isso que os jovens de todo o mundo estão a fazer agora", disse o político democrata, expressando a sua admiração pela próxima geração de líderes, incluindo a ativista sueca Greta Thunberg, que inspirou uma greve escolar global pelo clima.
Barack Obama brincou dizendo que era "diferente de Greta - eu não apareci na capa da revista "Time" quando tinha 16 anos. E quando eu faltava às aulas, isso não tinha nada a ver com as alterações climáticas", disse, entre risos.
O antigo presidente dos EUA apelou ainda aos jovens para que participem ativamente na sua vida cívica e que cumpram o direito de votar "como se a vossa vida dependesse disso".
"Reconheço que muitos jovens podem ser cínicos em relação à política. Mas o facto é que não teremos planos climáticos mais ambiciosos a menos que os governos sintam alguma pressão dos seus eleitores", concluiu Barack Obama.