Mais de 1,5 milhões de muçulmanos chegaram a Meca: grande peregrinação sob mais de 40 graus
Mais de um milhão e meio de fiéis muçulmanos já chegaram a Meca, no oeste da Arábia Saudita, para a grande peregrinação anual que decorre este ano com a guerra em Gaza como pano de fundo.
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Os peregrinos preparam-se na cidade mais sagrada do Islão para o início dos rituais do Hajj, que começarão na sexta-feira e se desenrolarão ao longo de vários dias, com temperaturas médias de cerca de 44 graus, segundo as previsões. No coração da Grande Mesquita, muitos peregrinos, vestidos com duas peças de roupa branca para os homens e de corpo inteiro para as mulheres, já começaram a rodear a Caaba (o cubo, em árabe), a estrutura cúbica negra para a qual todos os muçulmanos se voltam para rezar.
Até à noite de segunda-feira, 1,5 milhões peregrinos tinham chegado do estrangeiro, a maioria de avião, sem contar com os fiéis do interior do reino, segundo a imprensa saudita.
O Hajj é um dos cinco pilares do Islão, que todos os muçulmanos devem cumprir pelo menos uma vez na sua vida, se tiverem condições financeiras e físicas para o efeito. É uma das maiores concentrações religiosas mundiais. Este ano, a peregrinação decorre no contexto da guerra entre Israel e o movimento islamita palestiniano Hamas, que devasta a Faixa de Gaza há mais de oito meses.
A continuação desta guerra "suscita uma grande cólera no mundo muçulmano" e pode dar origem a manifestações de solidariedade que não agradam ao país anfitrião, sublinha Umer Karim, especialista em política saudita da Universidade de Birmingham, no Reino Unido.
Esta semana, a monarquia saudita anunciou que acolheria mil peregrinos entre as famílias das vítimas da Faixa de Gaza, elevando para dois mil o número total de palestinianos em Meca. No entanto, advertiu, através do seu ministro do Hajj, Tawfiq al-Rabiah, que "nenhuma atividade política" seria tolerada, uma vez que a peregrinação deveria ser estritamente dedicada às orações.
A Arábia Saudita nunca reconheceu Israel, mas a possibilidade de normalização esteve em cima da mesa antes do início da guerra, a 7 de outubro. Desde então, as conversações prosseguiram com os Estados Unidos, mas estão condicionadas à criação de um Estado palestiniano. As autoridades procurarão "controlar a difusão de qualquer mensagem ou manifestação política", que poderá "sair do controlo" e atingir os dirigentes do reino, segundo Umer Karim.
Calor abrasador
O Hajj é uma fonte de legitimidade para os governantes sauditas, uma vez que o soberano ostenta o título de "guardião das duas mesquitas sagradas" de Meca e Medina. Mais de 1,8 milhões de muçulmanos participaram no Hajj em 2023, cerca de 90% dos quais vindos do estrangeiro.
A grande peregrinação já foi palco de várias tragédias no passado, nomeadamente em 2015, quando uma enorme debandada matou 2300 pessoas. Desde então, as autoridades fizeram grandes mudanças e introduziram sistemas para facilitar o fluxo de multidões. Foram também adotados procedimentos para gerir os riscos para a saúde, uma vez que Meca é historicamente um local de transmissão de doenças entre pessoas de diferentes partes do mundo. Em 2020 e 2021, a pandemia de covid-19 obrigou o reino a restringir o número de peregrinos a alguns milhares, em comparação com 2,5 milhões em 2019 e um recorde de mais de 3,1 milhões em 2012.
Mas um dos principais riscos para os fiéis, que têm de efetuar a maior parte dos rituais ao ar livre em Meca e nos seus arredores, é o clima, numa das regiões mais quentes do mundo. Uma vez que as datas do Hajj são determinadas de acordo com o calendário muçulmano, que se baseia nos ciclos lunares, prevê-se que os rituais se realizem com temperaturas abrasadoras. De acordo com as autoridades sauditas, no ano passado, mais de dois mil peregrinos sofreram de doenças relacionadas com o calor, desde cãibras a graves problemas cardiovasculares.