Mais de 30 manifestantes detidos pelas autoridades angolanas, no sábado, em Luanda, continuam incomunicáveis e com paradeiro desconhecido, denunciou a organização 'Human Rights Watch', esta terça-feira.
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Um grupo de jovens realizou, no sábado, uma manifestação contra o presidente angolano, José Eduardo dos Santos, que resultou na detenção e ferimento de vários participantes, bem como na agressão a alguns jornalistas que faziam a cobertura do protesto.
Segundo a polícia, quatro agentes e três cidadãos ficaram feridos e 24 pessoas foram detidas.
Mas testemunhas afirmaram à 'Human Rights Watch' (HRW) que "muito mais pessoas ficaram feridas e que mais de 40 manifestantes foram detidos".
Isto faz com que "presumivelmente mais de 30 manifestantes foram detidos pelas autoridades e continuam incomunicáveis e com paradeiro desconhecido", estimou a organização.
Um advogado, Luís do Nascimento, queixou-se de ter sido impedido pelas autoridades policiais de contactar o seu cliente, Adolfo André, outro dos organizadores do movimento juvenil.
"As autoridades angolanas devem imediatamente divulgar o paradeiro das pessoas detidas durante a manifestação e dar-lhes acesso a advogados e às suas famílias," exigiu Daniel Bekele, director para África da HRW.
O mesmo responsável vincou que a "omissão deliberada desta informação não só suscita preocupações sobre maus-tratos na prisão, mas viola igualmente os direitos fundamentais a um processo justo."
Vinte e um jovens manifestantes serão submetidos a um julgamento sumário, esta terça-feira, no Tribunal de Polícia em Luanda por desordem pública, indicou o segundo comandante da Polícia Nacional, comissário-chefe Paulo de Almeida.
A HRW condenou o "uso da força desnecessária e desproporcional contra manifestantes".
"Homens não identificados também atacaram vários jornalistas que faziam a cobertura da manifestação e apreenderam ou partiram as suas câmaras e outros aparelhos de gravação, numa tentativa aparentemente coordenada de impedir a cobertura mediática e o relato de testemunhos imparciais dos incidentes de violência", refere a organização.
Jornalistas da Voz da América, RTP e TPA, a televisão estatal angolana, terão sido vítimas, segundo a HRW, que cita ainda o relato de um jornalista freelancer português António Cascais, a quem foi retirada uma máquina fotográfica, telemóveis e cartão de jornalista.
Também Pandito Nerú, um dos organizadores do protesto, relatou à HRW ter sido raptado sob ameaça de arma por homens não identificados e armados com AK-47 antes da manifestação.
Além de confiscarem o material que tinha preparado para o comício, afirmou à organização, "levaram-no para uma praia distante, onde o intimidaram com ameaças de morte e, mais tarde, o libertaram".