Pelo menos 841 pessoas foram executadas no Irão desde o início do ano, informou a ONU esta sexta-feira, condenando "um padrão sistemático de uso da pena de morte como ferramenta de intimidação estatal".
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O gabinete de direitos humanos das Nações Unidas afirmou que houve um "aumento significativo nas execuções" por Teerão durante o primeiro semestre de 2025.
"As autoridades iranianas executaram pelo menos 841 pessoas desde o início do ano", afirmou a porta-voz Ravina Shamdasani aos jornalistas, em Genebra. "A situação real pode ser diferente", acrescentou. "Pode ser pior, dada a falta de transparência".
Só em julho, realça Shamdasani, o Irão executou pelo menos 110 pessoas - o dobro do número de pessoas executadas em julho de 2024.
"O elevado número de execuções indica um padrão sistemático de utilização da pena de morte como ferramenta de intimidação estatal, com um alvo desproporcional nas minorias étnicas e nos migrantes", acrescentou Shamdasani.
A porta-voz salientou as execuções de cidadãos afegãos e de cidadãos baluchis, curdos e árabes.
Nos primeiros seis meses do ano, pelo menos 289 pessoas foram executadas por crimes relacionados com drogas.
Shamdasani disse que o padrão observado em vários países mostra que, quando os seus governos percebem ameaças ao seu controlo da ordem pública, tornam-se cada vez mais repressivos e menos tolerantes com a dissidência.
Crianças assistem a enforcamentos
A porta-voz criticou também a realização de execuções públicas no Irão. O gabinete de direitos humanos documentou sete casos desse tipo desde o início do ano - alguns deles, segundo relatos, com crianças a assistir.
"As execuções públicas acrescentam uma camada extra de indignação à dignidade humana... não apenas à dignidade das pessoas que são executadas, mas também a todas aquelas que têm de testemunhar", admite Shamdasani.
"O trauma psicológico de testemunhar alguém a ser enforcado em público, especialmente para as crianças, é inaceitável", realça.
O gabinete de direitos humanos da ONU afirmou que existem sérias preocupações quanto ao devido processo legal em casos de pena de morte.
"O que nos preocupa particularmente é que muitas destas sentenças de morte são impostas com base em leis vagas", afirmou a porta-voz, tais como acusações de inimizade contra Deus", afirma a porta-voz.
Shamdasani relata que 11 pessoas enfrentam atualmente "execução iminente" no Irão, incluindo seis acusadas de "rebelião armada" devido à suposta filiação na Organização Mujahedeen do Povo do Irão (MEK), um grupo de oposição no exílio.
As outras cinco foram condenadas à morte por terem participado em protestos em grande escala em 2022. A Suprema Corte do Irão confirmou na semana passada a sentença de morte contra a ativista dos direitos dos trabalhadores Sharifeh Mohammadi, revela Shamdasani.
O escritório de direitos humanos da ONU instou o governo do Irão a "não aplicar a pena de morte contra essas e outras pessoas no corredor da morte", acrescenta a porta-voz. "A pena de morte é incompatível com o direito à vida e irreconciliável com a dignidade humana".
"Isso cria um risco inaceitável de executar pessoas inocentes. Nunca deve ser imposto por condutas protegidas pela legislação internacional de direitos humanos", conclui Shamdasani.
O chefe de direitos humanos da ONU, Volker Turk, está a pedir a Teerão que imponha uma moratória à aplicação da pena capital, como um passo em direção à sua abolição.