Quinze mil pessoas participaram, esta segunda-feira, em Dresden, Alemanha, numa manifestação do movimento Patriotas Europeus contra a Islamização do Ocidente, como sinal de luto pelas vítimas do atentado contra o Charlie Hebdo.
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Centenas de bandeiras alemãs, cartazes chamando de mentirosos à Comunicação Social e ao Governo da chanceler Angela Merkel ou instando a que não sejam permitidos mais estrangeiros no país encheram uma praça central de Dresden, naquela que é a décima-segunda manifestação convocada pelo Patriotas Europeus contra a Islamização do Ocidente (Pegida, na sigla em alemão), novamente a uma segunda-feira.
Na manifestação eram também visíveis faixas com os nomes dos cartoonistas mortos no atentado ocorrido dia 7 em Paris, no qual morreram 12 pessoas, apesar de estas serem minoritárias face ao elevado número de cartazes contra a suposta "islamização" da sociedade alemã.
O Pegida manteve a convocatória como forma de desafiar todos os que se haviam pronunciado contra a iniciativa, incluindo o Ministro da Justiça alemão, Heiko Maas, que a partir do jornal "Bild" os tinha exortado a desconvocar a manifestação.
A convocatória em Dresden deu origem a várias manifestações paralelas em todo o país, também elas com a presença de dezenas de milhares de pessoas, em rejeição ao fanatismo e contra o movimento Pegida.
Um grupo de cartunistas franceses e francófonos pediu, através da rede social do Facebook, que não se caia na armadilha das falsas condolências dos islamofóbicos e denunciaram a "cínica" instrumentalização, pelo Pegida, do terrorismo 'jihadista'.
As vítimas em Paris não foram mortas por uma religião, mas pelo "ódio, ignorância, estupidez e extremismo", sublinharam na sua mensagem, assinada por 14 cartoonistas, entre eles o holandês "Willem", membro fundador do Charlie Hebdo.
Em Berlim, numa aparição com o seu homólogo turco, Ahmet Davutoglu, Angela Merkel lembrou hoje que é "chanceler de todos, independentemente da sua origem ou religião".
Merkel, que desde fins de dezembro tem apelado repetidamente aos cidadãos para que não sigam o Pegida, estará, esta terça-feira, numa concentração convocada pelo Conselho Muçulmano da Alemanha, a que se seguirá uma marcha pelo centro de Berlim, como a que teve lugar domingo em Paris e que será liderada pelo presidente da Alemanha, Joachim Gauck, e representantes de todos os partidos, além do Conselho Central dos Judeus na Alemanha.
Entretanto, na Alemanha vão tendo lugar outras manifestações de apoio ou repúdio ao Pegida e a grupos similares, caso do Legida (Movimento Contra a Islamização do Ocidente), que agendou uma manifestação contra os cidadãos islâmicos em Leipzig.
Em simultâneo, cidadãos organizaram, na mesma cidade, um protesto com cartazes onde se liam frases como: "Nem todo o muçulmano é um terrorista" ou "Os refugiados são bem-vindos. Um Mundo! Um Amor!".
Também membros da aliança "Baergida" (Patriotas Berlinenses contra a Islamização do Ocidente), uma ramificação do Pegida, protestaram em Berlim, inscrevendo numa placa a frase de Rosa Luxemburg: "A liberdade é sempre a liberdade daquele que pensa de forma diferente"
Em reação, outras pessoas saíram à rua em Berlim num contra-protesto, empunhando cartazes onde se lia "Contra todo o racismo - contra a hostilidade para com o Islão" ou "contra a violência da ala direita".
Já em Rostock, manifestantes pela abertura e a tolerância deixavam ler num poster ser "contra o racismo, o sexismo e a homofobia", contestando a implantação do MVgida (Mecklemburgo - Western Pomerânia Contra a Islamização do Ocidente) em Stralsund e em Schwerin.
Em Munique, onde 20 mil pessoas defenderam uma sociedade multiétnica num protesto contra o Bagida (Bavaria contra a Islamização do Ocidente), podia ler-se nos cartazes que: "A liberdade não pode ser abatida a tiro".
Entretanto, o Pegida está a lançar ramificações na vizinha Suíça, segundo vários meios de comunicação helvéticos.
A fundação da secção suíça do Pegida teve lugar na sexta-feira e envolveu uma dezena de pessoas, das quais a única face visível é o presidente do Partido Democracia Direta (nacionalista), que atua como porta-voz, Ignaz Bearth.
O movimento já abriu uma conta no Facebook, que em três dias tinha 3.300 "gostos", tendo já apelado a uma manifestação para dia 16 de fevereiro.
Na linha do movimento alemão, esta ramificação desafia os seus apoiantes a tomar medidas contra a suposta islamização da Suíça, tendo colocado um programa com 14 pontos no Facebook.
Desses 14 pontos faz parte a oposição ao uso da burka na Suíça e à visita de imãs às escolas, declarando-se contra a "imigração em massa" e apelando a que os criminosos estrangeiros sejam expulsos do país.
Estes dois últimos temas são centrais na ideologia do partido de extrema-direita União Democrática do Centro (UDC), que conta com um significativo eleitorado no país.
O Pegida Suíça rejeita ainda a primazia dos acórdãos do Tribunal Europeu dos Direitos Humanos.