Manifestações pós-eleitorais em Moçambique afetaram quase mil empresas e 17 mil empregos
Quase mil empresas moçambicanas foram afetadas pelas manifestações pós-eleitorais desde outubro, com um impacto na economia superior a 480 milhões de euros e 17 mil desempregados, segundo estimativa da Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA).
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De acordo com o levantamento preliminar feito pela CTA, foram afetadas de “forma direta” pelas manifestações e agitação social que se seguiu às eleições gerais de 9 de outubro 955 empresas, em que 51% “sofreram vandalizações totais e/ou saques das suas mercadorias”.
“Agregando os valores das perdas em todas as fases [dos protestos], podemos afirmar com certeza que o impacto das manifestações foi negativo e custou à economia cerca de 32,2 mil milhões de meticais [481 milhões de euros], arrastando consigo mais de 17 mil postos de emprego”, sublinhou Agostinho Vuma, presidente da CTA, citando as conclusões do levantamento.
Segundo a CTA, o setor do comércio “foi o mais afetado” e o impacto global equivale a 2,2% do Produto Interno Bruto, o que “afetou negativamente as projeções do crescimento económico de 2024”, que passaram “a situar-se a 3,3%, bem abaixo dos 5,5% da previsão inicial”.
Refere igualmente que “o clima de vandalizações e paralisações assistidas durante a quadra festiva do final do ano, nomeadamente nos dias 23, 24 e 25 de dezembro” de 2024, resultou em perdas estimadas em 7,4 mil milhões de meticais (110,5 milhões de euros), “sendo que 56% destas perdas resultaram das vandalizações e os restantes 44% das constantes paralisações”.
Neste cenário, o desempenho empresarial em Moçambique, no quarto trimestre de 2024, avaliado pela CTA, apresentou “desafios significativos”, tendo o Índice de Robustez Empresarial registado uma redução de cinco pontos percentuais face ao trimestre anterior, “saindo de 30% para 25%, o que reflete as fragilidades do setor empresarial no país”.
De acordo com o Relatório do Índice de Robustez Empresarial, apresentado na quinta-feira no Economic Briefing promovido pela CTA, contribuíram para esta tendência o “pouco dinamismo de alguns setores devido à vigência da campanha eleitoral, derivada da pouca procura de bens e serviços de consumo permanente por parte do Estado”.
Também “a continuidade de escassez de divisas que comprometeu o pagamento de faturas aos fornecedores externos e consequentemente o plano de produção das empresas”, o “aumento contínuo de custos de logística devido à degradação das vias de escoamento, associada à manutenção em alta dos preços de combustíveis, bem como o surgimento de portagens ilegais”, no contexto das manifestações pós-eleitorais.
O presidente de Moçambique, Daniel Chapo, admitiu na quinta-feira medidas como a reestruturação da dívida das Pequenas e Médias Empresas (PME) e linhas de crédito bonificadas para apoiar a recuperação das empresas afetadas pelas manifestações pós-eleitorais.
“Em busca de soluções para aliviar a pressão financeira das empresas, reunimos (...) com a Associação dos Bancos Comerciais para avaliar as medidas de recuperação económica destinadas a mitigar os impactos das recentes manifestações violentas”, anunciou o chefe de Estado, numa mensagem na sua conta oficial na rede social X.
Chapo acrescentou que, do encontro, “ressaltou”, desde logo, a possibilidade de “reestruturação da dívida” das PME “afetadas direta ou indiretamente pela situação”.
Por outro lado, referiu a “criação de linhas de crédito bonificadas destinadas às empresas que não possuem dívidas, mas que necessitam de capital para impulsionar os seus negócios, com juros anuais estimados em 15%”.
“Com estas e outras medidas em análise, esperamos fortalecer a resiliência das PME e assegurar a rápida recuperação sustentável da economia nacional”, acrescentou.
Moçambique vive desde as eleições gerais de 9 de outubro um clima de agitação social, agravada pelos anúncios dos resultados da votação, com manifestações, protestos nas ruas, barricadas, cortes de estrada, vandalização e destruição de equipamentos públicos e de empresas, saques e confrontos com a polícia que provocaram mais de 300 mortos.