Manifestações prosseguem contra Presidente do Egito após anúncio de poderes excecionais
Milhares de egípcios voltaram a manifestar-se esta terça-feira contra o Presidente islamita Mohamed Morsi, que na segunda-feira confirmou a manutenção do decreto que lhe concede poderes excecionais.
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Milhares de pessoas, em particular advogados, desfilaram em direção à praça Tahrir, centro da capital, ecoando "O povo quer a queda do regime", uma das palavras de ordem mais escutadas durante a revolta de janeiro e fevereiro de 2011 que conduziu ao derrube do regime autocrático de Hosni Mubarak.
Outros cortejos também se dirigiam para emblemática praça, onde milhares de manifestantes já contestavam a deriva "ditatorial" do novo poder.
"A Irmandade Muçulmana mente", referia outra faixa exibida pelos opositores, enquanto uma bandeira à entrada do amplo recinto indicava "Proibido à Irmandade Muçulmana", a formação de onde provém Morsi.
Na noite de segunda-feira, o Partido da Liberdade e da Justiça (PLJ), braço político da Irmandade Muçulmana, anunciou a desconvocação de uma manifestação de apoio a Morsi, prevista para outro bairro da capital, para evitar confrontos.
Após um encontro, ainda na segunda-feira, com a hierarquia judicial, Morsi decidiu manter o controverso decreto que o autoriza a adotar as medidas consideradas necessárias para "proteger a revolução".
O decreto, anunciado na quinta-feira e que coloca algumas decisões presidenciais ao abrigo de qualquer recurso da justiça, suscitou uma reação imediata de parte do mundo judicial e de diversos líderes políticos.
A presidência egípcia entendeu de imediato esclarecer que apenas os "poderes soberanos", cuja definição permanece vaga, vão permanecer fora da alçada judicial, deixando entender que as decisões de rotina poderão ser sempre submetidas aos magistrados.
O decreto impede ainda a justiça de examinar recursos contra os procedimentos de redação de uma Constituição, que os adversários de Morsi consideram estarem a ser dominados pelos islamitas.
Os apoiantes de Morsi têm sublinhado que estes poderes excecionais vão permitir ao Presidente aplicar as reformas necessárias e asseguram que serão extintos com a adoção da nova Constituição, prevista para os próximos meses.
No seu decreto, o Presidente também solicita "novos inquéritos e julgamentos" pela morte de manifestantes durante a revolta de 2011, fazendo pairar uma ameaça sobre alguns responsáveis militares e da polícia, ou um novo processo dirigido ao ex-Presidente Mubarak.
Este último ponto, precisa a agência noticiosa AFP, responde às crescentes pressões da oposição e de parte considerável da opinião pública, que consideram a generalidade dos processos registados até ao momento demasiado complacentes com os suspeitos.