Mais de meio milhão de pessoas juntou-se para assistir à missa com Francisco em Tasi Tolu, o mesmo local onde João Paulo II esteve há 35 anos.
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O Papa discursou, esta terça-feira, em Tasi Tolu, nos arredores de Díli, capital de Timor-Leste, para milhares de pessoas que começaram a ocupar o recinto desde manhã. Num país cuja população é 98% católica, juntaram-se ainda peregrinos estrangeiros que viajaram para ouvir o líder do Vaticano.
Petrus Subiarto, 64 anos, natural da ilha das Flores, em Bali, na Indonésia, foi uma gota nesse oceano de oração entre a montanha e o mar. “Aqui somos todos católicos e todos partilhamos a mensagem de esperança do Papa Francisco”, afirmou, referindo-se ao “mar de gente” que se protegeu do sol com guarda-chuvas com as cores do Vaticano (amarelo e branco).
Por ali desaguaram católicos australianos que residem no território, e também portugueses e norte-americanos. A missa começou cerca das 16 horas (8 horas em Portugal continental) e os termómetros já marcavam 28 graus. Os bombeiros chegaram a atirar água para refrescar a multidão.
"Grande dom" das crianças
Durante a homilia, Francisco destacou o "grande dom" que são as crianças e os jovens. "Timor-Leste é bonito, porque tem muitas crianças: sois um país jovem onde por todo o lado se sente a vida a pulsar, a desabrochar e isso é um grande dom".
A presença de tantos jovens e crianças renova, segundo Francisco, “a frescura, a energia, a alegria e o entusiasmo” do povo, mas, mais ainda, trata-se de um sinal, “porque dar espaço aos mais pequenos, acolhê-los, cuidar deles e fazermo-nos pequenos diante de Deus e diante uns dos outros são precisamente atitudes que nos abrem à ação do Senhor”, acrescentou.
Papa alerta para "crocodilos"
Francisco alertou a população local para terem cuidado com os “crocodilos” que querem mudar a identidade e a história de Timor-Leste. “Estejam atentos, porque me disseram que em algumas praias vivem crocodilos. Os crocodilos nadam e têm uma mordida forte. Estejam atentos a esses crocodilos, que querem mudar-vos a cultura e a história”, advertiu, sem especificar a quem se dirigia.
“Não se aproximem desses crocodilos porque mordem e mordem muito”, realçou, insistindo que o melhor de Timor-Leste é o seu povo e que o melhor do povo são as crianças. “Um povo que ensina as suas crianças a sorrir, é um povo com futuro”, disse, não esquecendo os mais velhos, que “são a memória da terra”.
"Obrigada, muito obrigada pela vossa caridade, pela vossa fé. Sigam em frente com esperança", disse, deixando momentos depois o palco em Tasi Tolu.
"Perfume do evangelho"
Antes da missa com 600 mil fiéis, nas contas das autoridades, o Papa abençoou pessoas com necessidades especiais ao lado o primeiro-ministro timorense Xanana Gusmão. Na visita a uma associação que dá assistência a pobres, doentes e pessoas com deficiência, foi recebido por freiras e crianças a cantar, vestidas com trajes tradicionais.
Francisco discursou na Catedral da Imaculada Conceição, em Díli, num país que “precisa de um renovado impulso na evangelização”, para que chegue a todos a “reconciliação” e a “paz, depois dos sofridos anos de guerra”.
Numa referência à cena bíblica de Maria a ungir os pés de Jesus com perfume, o Papa apelou ao “perfume de justiça contra a corrupção”, que não deve entrar na comunidade. “O perfume do evangelho deve ser difundido contra tudo o que humilha, deturpa e até destrói a vida humana, contra as chagas que geram vazio interior e sofrimento, como o alcoolismo, a violência e a falta de respeito pela dignidade das mulheres”, afirmou.
Por entre aplausos dos fiéis, sublinho o papel das mulheres, que “são o mais importante da igreja” e “mães do povo de Deus”. Esta é a viagem mais longa do pontificado de Fransciso e termina sexta-feira em Singapura.
Francisco salientou ainda que é preciso sair da "religiosidade preguiçosa e cómoda", pedido aos sacerdotes para não terem um "sentimento de superioridade em relação ao povo". O ministério não é um "prestígio social", garantiu.
Quase 35 anos depois, o vigário para as questões pastorais na arquidiocese metropolitana de Díli, padre Jovito Araújoos não esconde a emoção de viver numpaís independente: "Agora, estamos numa euforia de liberdade, todo o povo vem [à rua ver o Papa] com toda a liberdade, apesar de restrições por causa da segurança".
O Papa chegou na segunda-feira a Timor-Leste para uma visita de três dias no âmbito de uma deslocação à região da Ásia-Pacífico, tendo já estado na Indonésia e na Papua Nova Guiné.