Em Espanha, os indicadores económicos em termos de desemprego, défice e crescimento económico apresentam um panorama que "não poderia ser mais sombrio" obrigando a cortes de 16500 milhões de euros, afirmou Mariano Rajoy.
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"O panorama não pode ser mais sombrio", disse o futuro primeiro-ministro espanhol, no arranque da sua intervenção no Congresso de Deputados, em Madrid, que tem como único ponto o debate de investidura do próximo presidente do Governo.
Face à situação actual, Mariano Rajoy anunciou que a primeira medida do novo governo "será a lei de estabilidade orçamental", considerando vital também o "culminar do processo de saneamento do sistema financeiro", recordando que em Espanha "ainda pesam sérias incertezas sobre os balanços e o acesso aos mercados de financiamento é extremamente difícil".
No final do discurso de cerca de 90 minutos, Mariano Rajoy chamou todos os espanhóis para uma tarefa a favor do futuro de Espanha e pediu ajuda para enfrentar sacrifícios difíceis.
"A primeira condição é que Espanha trabalhe unida, num grande esforço solidário", disse, pedindo o fim de tudo o que "possa enturvar as águas da convivência".
"Convoco todos e reclamo, com humildade, a ajuda de todos, oferecendo a defesa da unidade, do diálogo sem cansaço, a garantia de justiça na distribuição dos sacrifícios e mostrar sempre a verdade, tenha a cor que tiver", afirmou.
Prioridades
Mariano Rajoy destacou o crescimento económico e a criação de emprego como prioridades do executivo, que "não pode estar alheio" às dificuldades do país. "Quando se cria emprego, cresce a liberdade. Temos que semear com urgência se queremos que nasça antes possível a nova colheita de emprego", disse.
"Concentrar todos os nossos esforços na criação de emprego, reservar um lugar para os nossos filhos num mundo em mudança e governar com transparências", acrescentou.
Mariano Rajoy falava no plenário do Congresso de Deputados dedicado ao debate de investidura que termina na terça-feira, com a votação como presidente do Governo, cargo em que será formalmente empossado, perante o rei Juan Carlos, na sexta-feira.
"Temos que decidir que lugar queremos que Espanha ocupe no mundo, como nos inserimos num novo cenário global, mais competitivo e mais exigente", afirmou.
"Temos que fazer grandes reformas, mas pensando em algo mais que reduzir o défice, criar emprego, corrigir o nosso modelo educativo e melhorar o nosso serviço sanitário. A pensar no que Espanha necessita não no ano quem vem, mas nos próximos 20 anos", afirmou.
Novo Governo por revelar
A economia marcou claramente este discurso de Rajoy, que ainda não divulgou a composição do Governo e cuja preocupação dominante para o início de 2012 será a aprovação do Orçamento de Estado.
Rajoy afirmou que Espanha e os espanhóis não devem olhar para o passado, e que não basta querer "recuperar o que já foi", porque "a Espanha que ficou para trás não vai voltar", tendo agora que "renascer para competir por um lugar de primeira fila num mundo novo.
"O governo que me proponho formar deve dar conteúdo ao mandato que recebemos e fazê-lo em circunstâncias que são as mais difíceis que já enfrentou qualquer governo desde a restauração da democracia", afirmou Rajoy, prometendo "dizer sempre a verdade, doa o que doer".
"Chamar pão ao pão e vinho ao vinho", afirmou, pedindo a "confiança da câmara" para responder à "clara vontade de mudança na condução do Governo da nação" expresso nas urnas a 20 de novembro.
Um esforço de governação, disse, que não pode ser alheio às dificuldades que enfrenta Espanha e à "contundência dos resultados" eleitorais que exigem "uma página nova na história democrática" do país.
Rajoy prometeu "dedicar toda a capacidade do Governo e todas as forças da nação a deter a sangria do desemprego e fomentar o crescimento", algo que "Espanha requer e a Europa exige" e que será a "pedra angular da tarefa" da recuperação do país.
Rajoy, que ouvirá hoje e na terça-feira as réplicas dos vários grupos parlamentares, recordou - no início do discurso - as "vítimas do terrorismo", manifestou uma "sincera vontade de diálogo com todas as forças políticas com representação parlamentar" e expressou "respeito e consideração ao Governo em funções" e, em particular, ao seu presidente, José Luis Rodríguez Zapatero.