A líder da extrema-direita francesa, Marie Le Pen, questionou, esta quinta-feira, o papel do presidente Emmanuel Macron como comandante-chefe das forças armadas e defendeu que algumas decisões sobre defesa cabem ao primeiro-ministro.
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A apenas três dias das eleições legislativas em França, Le Pen levantou a questão de quem estará no comando das forças armadas se o seu partido assumir o governo após as duas voltas do escrutínio.
Le Pen tem dito repetidamente que Jordan Bardella, seu protegido e principal líder do partido União Nacional (RN, do nome original em francês Rassemblement National), será primeiro-ministro em caso de vitória.
Servir como comandante-chefe das forças armadas "é um título honorário para o presidente, uma vez que é o primeiro-ministro que realmente puxa os cordelinhos", afirmou Le Pen, citada pela agência norte-americana AP.
Para Le Pen, "o presidente não poderá enviar tropas para a Ucrânia", apesar de Macron se ter recusado a excluir essa opção.
O ministro da Defesa, Sébastien Lecornu, reagiu de imediato à entrevista e escreveu nas redes sociais que "a Constituição não é honorífica", segundo a agência francesa AFP.
Lecornu disse que, de acordo com a Constituição, o presidente da República negoceia e conclui tratados, é o chefe das forças armadas e preside à defesa.
O texto constitucional estabelece que "o presidente da República é o chefe das forças armadas", e preside aos conselhos e comités superiores da defesa nacional, mas também que "o primeiro-ministro é responsável pela defesa nacional".
Constitucionalistas afirmam que o papel exato do primeiro-ministro na política externa e de defesa parece estar sujeito a interpretações, segundo a AP.
Da última vez que a França teve um primeiro-ministro e um presidente de partidos diferentes, os dois concordaram em geral em questões estratégicas de defesa e política externa.
Desta vez, poderá ser muito diferente, dada a animosidade entre extrema-direita e extrema-esquerda, e o ressentimento de ambos os campos para com o presidente centrista e amigo dos empresários, referiu a AP.
Le Pen está confiante de que o RN, que tem um historial de racismo e xenofobia, seja capaz de traduzir o triunfo nas eleições europeias no início de junho numa vitória nas legislativas a duas voltas em França.
A primeira volta terá lugar no domingo e a segunda, e decisiva, realiza-se uma semana mais tarde, em 7 de julho.
Macron convocou eleições antecipadas na sequência da derrota do seu partido, Renascimento, nas europeias, em que se ficou por metade da percentagem de votos do RN.