Republicano alcança presidência da Câmara dos Representantes após quinze votações. Constante ameaça de ser afastado pelos detratores fragiliza mandato de dois anos.
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Quinze votações depois, Kevin McCarthy conseguiu conquistar o lugar que o torna na terceira maior figura do Estado norte-americano. Ao fim de quatro dias de rondas falhadas, o californiano alcançou, na madrugada de de sábado, a liderança da Câmara dos Representantes após fazer um acordo com os opositores internos do Partido Republicano, que bloquearam, através da votação em outros candidatos, uma ascensão nas eleições anteriores. As cedências à fação ultraconservadora deixam o sucessor de Nancy Pelosi numa situação de fragilidade, uma vez que qualquer deputado tem permissão para pedir uma moção que poderá afastá-lo do poder - hipótese que sempre esteve prevista, porém, exigia os votos de pelo menos cinco congressistas para avançar.
Salvo pelas abstenções
Além disso, McCarthy, que precisou apenas de 216 votos para sair vitorioso da 15ª eleição - uma vez que os seis "vermelhos" mais difíceis de cativar acabaram por, na derradeira ronda, se abster, dando ao deputado a maioria das aprovações necessárias para ser eleito, contra os 212 votos do candidato democrata Hakeem Jeffries -, fez outras concessões de última hora que começaram a ser limadas na manhã de na sexta-feira, mas só deram frutos depois da meia-noite (hora local).
Uma das promessas passa por integrar um dos ultraconservadores no Comité das Regras da Câmara, que define os termos do debate legislativo na câmara baixa do Congresso.
Apesar das constantes humilhações, ao sair derrotado das eleições catorze vezes consecutivas, o recém-eleito lembrou as palavras do pai. "Não é como começa, mas como termina", constatou, em referência às adversidades dos últimos dias.
A influência de Trump
No primeiro discurso enquanto presidente da Câmara dos Representantes, McCarthy destacou ainda o apoio de uma outra figura fulcral para o desfecho triunfante: Donald Trump.
"Esteve comigo desde o início", assinalou, realçando a importância da mobilização realizada pelo ex-presidente dos EUA. Além do apoio demonstrado publicamente, momentos antes de ser iniciada a última votação, os telefonemas do antigo líder da Casa Branca aos "rebeldes" que estavam a travar a eleição terão sido fundamentais para mudar o curso da noite. "Ninguém deveria duvidar da influência do presidente Trump", sublinhou McCarthy.
Para os próximos dois anos, o californiano já traçou metas. A primeira passa por supervisionar o trabalho feito pela administração de Joe Biden, o que implicará, informou sábado McCarthy, olhar com maior atenção para a questão energética e migratória.
Na agenda dos próximos meses estão programadas negociações para elevar o limite da dívida pública americana, o financiamento do Estado federal e, ao que tudo indica, a libertação de mais apoio para a Ucrânia. Os republicanos prometeram ainda lançar um conjunto de investigações sobre a gestão da pandemia e a retirada das forças dos EUA do Afeganistão.
O bombeiro que superou a prova de fogo
Enquanto frequentava a prestigiada California State University, Bakersfield, McCarthy, de 57 anos, nascido no seio de uma família de origens humildes, trabalhou como bombeiro. Paralelamente, frequentava grupos associados ao Partido Republicano, porém, foi através da resiliência que alcançou o apogeu da política. Devido à natureza afável, ideologia moderada e capacidade de alcançar acordos, McCarthy tornou-se popular rapidamente. No entanto, ao integrar o "Movimento Tea Party", aproximou-se de figuras mais extremistas do partido que o ajudaram a tornar-se num político de relevo. Ao longo dos anos, o californiano apercebeu-se que o percurso para o poder passava por caminhar lado a lado com republicanos mais conservadores - e não estava enganado. Foi com o apoio destes elementos, e do "amigo" Donald Trump, que chegou ao lugar desejado.
Dados
118º Congresso dos EUA assume funções amanhã. A maioria da câmara baixa do Congresso, que conta com 435 assentos, está agora nas mãos dos republicanos