Medalhado paralímpico espera ser o primeiro astronauta com deficiência a ir ao Espaço
A Agência Espacial Europeia quer perceber até que ponto as condições no Espaço afetariam a prótese de John McFall.
Corpo do artigo
John McFall acabara de completar quatro décadas de vida quando um colega lhe enviou um anúncio de emprego para aspirantes a astronautas. "Para ser sincero, só consegui pensar o quão bom seria ir ao Espaço", revela ao jornal britânico "The Guardian". No entanto, isso implicaria quebrar uma barreira que se manteve firme durante mais de 60 anos de exploração espacial. Porquê? Na adolescência, McFall sofreu um acidente rodoviário que obrigou à amputação da perna direita. Integrar a Agência Espacial Europeia (ESA, na sigla em inglês) torná-lo-ia o primeiro astronauta do Mundo com deficiência.
Depois do acidente, o britânico dedicou-se ao atletismo paralímpico e venceu a medalha de bronze nas Olimpíadas de Pequim, em 2008. Mais tarde, tornou-se cirurgião ortopédico. Como se não bastasse, completou com sucesso as seis etapas do recrutamento da ESA, que vão de testes psicomotores a entrevistas coletivas. Em 2022, a agência anunciou que John McFall integraria um estudo com o propósito de perceber se uma pessoa com deficiência pode viver e trabalhar no Espaço.
As missões espaciais foram pensadas para pessoas sem deficiência e, por isso, a ESA procura respostas para questões simples. Como é que McFall se moveria em microgravidade? As condições em que os astronautas vivem afetariam a sua prótese? Para já, os resultados sugerem que a viagem de McFall até ao Espaço é exequível. Perspetiva-se que ele - ou alguém com uma deficiência similar - poderá treinar para integrar uma missão espacial. "Espero que, entre 2027 e o final desta década, vejamos um astronauta europeu com deficiência física como membro da tripulação da Estação Espacial Internacional", afirma.
A discriminação está (até) onde não a vemos
Desde que começou a trabalhar na ESA, John McFall tem lutado contra o uso do termo parastronauta. "Eu não sou para-cirurgião, não sou para-pai. Acho que é importante conversar sobre isto. O que é que significa, exatamente?", questiona. O britânico acredita que colocar o prefixo "para" atrás de tudo o que é feito por alguém com uma deficiência acentua o estigma e a divisão que já existem, "o que é desnecessário".
O mais recente relatório sobre direitos humanos do Fórum Europeu das Pessoas com Deficiência conclui que as pessoas com deficiência têm mais probabilidade de estar desempregradas e, por consequência, de viver abaixo do limiar da pobreza. Ao desafiar a perceção pública de um astronauta, John McFall espera também desafiar a estatística. "É uma oportunidade de criar mais oportunidades para pessoas como eu, em vários campos profissionais diferentes. Quero que as pessoas tenham uma ideia clara e informada sobre o que significa ser uma pessoa com deficiência", conclui.