Médicos internos e especialistas em greve no mesmo dia pela primeira vez na Inglaterra
Milhares de médicos fazem, esta quarta-feira, uma paralisação na Inglaterra, algo inédito num mesmo dia. Exigem melhores condições de trabalho e aumento dos salários, afetados pela crescente inflação britânica.
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Os médicos internos devem realizar greves esta quarta, quinta e sexta-feira, além dos dias 2 a 4 de outubro. Já os especialistas param as atividades hoje e nos mesmos três dias no próximo mês.
O principal motivo para o movimento trabalhista é a queda dos sálarios por causa da inflação. O Governo, que disse que não apresentará mais ofertas, implementou um aumento de 6% para os especialistas e os internos – com estes últimos a receberem ainda um pagamento único de 1250 libras esterlinas (1445 euros).
A Associação Médica Britânica (BMA, na sigla inglesa) afirmou, numa carta ao primeiro-ministro Rishi Sunak, que cancelaria a greve dos mais de 33 mil médicos especialistas se a demanda por um aumento de 12% para 2023 e 2024 fosse atendida por Londres, segundo o jornal "The Guardian". A exigência seria para repor as perdas da inflação, medidas pelo Índice de Preços do Retalho (RPI), cujo valor nos últimos 12 meses chegou a 11,4% em abril.
Já os internos pedem um aumento de 35% para restaurar os ordenados a níveis de 2008 e 2009. Neste período de 15 anos, os salários reais desta categoria caíram em 26%, com os grevistas a destacarem que, ao ganharem pouco mais de 14 libras por hora (16 euros), tais médicos recebem menos que um barista numa cafetaria.
"A falta de investimento em salários por parte do governo dificultou o recrutamento e a retenção de médicos internos", salientou a BMA anteriormente, citada pela estação Sky News. "Se os médicos internos forem forçados a sair do NHS [Serviço Nacional de Saúde] por causa de salários e condições precárias, os serviços de que todos dependemos para cuidar dos nossos entes queridos sofrerão", alertou.
O canal de televisão menciona que encontrou profissionais, em março, que precisam pedir dinheiro emprestado a familiares para poderem pagar as rendas, contas e até realizarem exames de saúde. "A maioria dos médicos trabalha pelo menos 48 horas por semana, mas há internos que conseguem um segundo emprego ou fazem turnos temporários para sobreviver", relatou à Sky News Sumi Manirajan, de 29 anos, que trabalha num hospital em Londres.
Impacto no atendimento
A greve deve resultar em níveis de atendimento similares ao dia de Natal. De acordo com a BBC, a paralisação esta quarta-feira foi parcial nas duas categorias, com serviços de emergência limitados a serem realizados. Já na quinta e sexta-feira, os internos realizarão uma interrupção total.
Consultas e operações que estavam planeadas foram desmarcadas – totalizando quase um milhão desde dezembro. Em declarações reproduzidas pela rede pública britânica, o diretor médico do NHS da Inglaterra, Stephen Powis, disse que o serviço "simplesmente nunca viu este tipo de ação laboral na sua história".