Comunidade do Porto apelou a que a Rússia interrompa a escalada militar que tem vindo a impor na fronteira entre os dois países.
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A maior parte já vive em Portugal há vários anos, mas nem os mais de 3000 quilómetros de distância lhes apagam a vontade de lutar pela independência do país. Munidos de cartazes onde se podia ler "Guerra Não" ou "Stop Putin", a comunidade ucraniana, representada por diferentes faixas etárias, juntou-se este domingo no Porto, para pedir que Moscovo pare com as ameaças e introduza uma mobilização real do exército plantado na fronteira.
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"O nosso objetivo com esta manifestação é que o Putin retire os seus militares da zona Leste" explicou Ivan Muzychak, responsável pela igreja greco-católica ucraniana localizada em Vila Nova de Gaia, depois de ajudar os seus compatriotas a colar cartazes, na entrada do Consulado da Federação Russa, onde Putin foi caricaturado com a imagem de um palhaço. Questionado sobre o anúncio da retirada de tropas feito pelo Kremlin há poucos dias, o ucraniano, que tem os pais de idade avançada a viver em situação de tensão, disse ser tudo mentira. "Isso é tão claro como a luz do dia", sublinhou.
Impulsionada pela preocupação com o futuro, Lyudmyla Artysh que vive em Portugal há mais de 20 anos, contou ao JN que "o dia a dia dos ucranianos é a pensar se a Rússia vai invadir o país ou não". Com um cartaz onde se podia ler "Stop War", assegurou que atualmente não tem intenções de regressar para a terra que a viu nascer. Aqui é enfermeira e cuida dos mais necessitados. Lá tem um irmão, sobrinhos menores e vários familiares que vivem com medo que a guerra lhes bata à porta. "Combinamos que se a invasão acontecer os meus sobrinhos vêm para cá", revelou, dizendo acreditar que o pior está breve, já que "a Rússia está a procurar um motivo para invadir a Ucrânia".
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Unidos para o que der vier, uns já nasceram em Portugal, outros saíram com a família em busca de melhores condições de vida. O coração, esse, continua a ser azul e amarelo e é nas horas de maior aperto que o sentimento de patriotismo renasce. Maryana Berezyak, que juntamente com os restantes manifestantes entoou em voz alta o hino do seu país, carregando a bandeira do seu país às costas, alertou que a Rússia continua a priorizar os ideais imperialistas, não respeitando a soberania ucraniana. "A cabeça de Putin é muito estranha. Tem um sonho de construir um Império, mas nós já somos um país independente há mais de 30 anos", reiterou, lamentando que a Ucrânia não esteja a ser incluída na Aliança Atlântica. "A NATO diz que tem a porta aberta mas não nos dá licença para entrar", refere.
Se uns se mostram confiantes no diálogo entre a Rússia e o Ocidente, outros nem tanto. Depois de tantos anos de tensões com o gigante euro-asiático, a comunidade de ucranianos no Porto já começou a prevenir o futuro, revelando que está a recolher alimentos, medicamentos, roupas e outros bens que possam ser encaminhados para a Ucrânia, porém têm noção de que esta tarefa será difícil sobretudo no que diz respeito ao transporte.
Com a iminência de um ataque em massa a crescer, mostram-se recetivos à receção de refugiados que possam tentar escapar a uma eventual guerra. "Ninguém vai morrer à fome", profetizou Ivan Muzychak, que ao mesmo tempo que está de portas abertas para receber os possíveis migrantes, acredita que a adaptação destas pessoas será difícil, sobretudo porque a comunidade da qual faz parte já é muito sólida tanto a nível social como económico. "Não sei dizer o número de pessoas que conseguimos receber, mas vamos tentar ajudar o máximo possível".
A viver em Portugal desde 2000, Ivan Muzychak vê este conflito "como um dos piores para a Ucrânia" e assegurou que se os confrontos continuarem e Putin não der sinais de tréguas, "mais manifestações serão organizadas e em grande escala. Não vamos parar". Para já, o momento é de apreensão, mas no meio do caos ainda há quem veja pontos positivos. "O nosso país está mais unido do que nunca", rematou Maryana Berezyak.