Menina de seis anos morreu no dentista. Clínico foi detido por homicídio negligente

Dentista e anestesista foram detidos
Foto: Polícia Nacional de Espanha/Arquivo
A Polícia Nacional espanhola deteve, nesta quarta-feira, o anestesista e a proprietária de uma clínica dentária em Alzira, Valencia, após a morte de uma menina de seis anos e o internamento de outra criança, de quatro. Os dois profissionais enfrentam suspeitas de homicídio por negligência, lesões, crime contra a saúde pública e omissão de auxílio.
A menina de seis anos foi tratada na Clínica Dentária Mireia no passado dia 20 de novembro. Após a administração de um sedativo para extrair dentes de leite, começou a sentir sonolência, vómitos e dificuldades respiratórias. Chegou ao Hospital de la Ribera às 16.52 horas, já em paragem cardiorrespiratória e, apesar das manobras de reanimação, acabou por falecer.
Horas mais tarde, outra criança, de quatro anos, atendida na mesma clínica, apresentou sintomas idênticos e teve de ser internada. A menor foi mantida vários dias nos cuidados intensivos pediátricos do Hospital Clínico de Valência, tendo recuperado.
Perante os incidentes, o Ministério da Saúde suspendeu de imediato a atividade da clínica e abriu uma investigação para apurar responsabilidades. O organismo confirmou que o centro não dispunha de autorização para realizar procedimentos que envolvessem anestesia intravenosa.
A dentista e proprietária da clínica, Mireia V., de 50 anos, afirmou ao jornal espanhol "El País" que o lote do medicamento utilizado estava sob investigação e alegou desconhecer o que poderá ter ocorrido. Óscar Castro, presidente do Conselho de Dentistas, explicou ao jornal que a sedação é um procedimento comum em crianças muito ansiosas, mas alertou que é necessário garantir a rastreabilidade e a legalidade dos produtos administrados. "Até se verificar que medicamentos foram usados e a sua origem, é impossível saber o que aconteceu", declarou.
Também David Callejo, anestesista pediátrico, classificou o caso como "muito estranho", sublinhando que mortes associadas à sedação em crianças são raras e ocorrem, regra geral, em contexto hospitalar e durante o procedimento, não após a alta.
Profissionais detidos
O anestesista, de 43 anos, foi o primeiro a ser detido, por volta das 9 horas de hoje. O homem prestava serviços esporádicos à clínica e, segundo o site da instituição, não fazia parte do quadro permanente. Ao profissional é ainda imputado um crime de furto, por alegadamente retirar medicamentos de um hospital para uso em clínicas privadas.
Horas depois, a proprietária da clínica também foi detida, por suspeitas de omissão do dever de socorro e crime contra a saúde pública.
O anestesista já foi interrogado pela Secretaria de Saúde e pelo Grupo de Homicídios da Polícia Nacional. As autoridades realizaram ainda uma inspeção de quase sete horas na clínica para recolher documentação e substâncias utilizadas, agora em análise laboratorial.
Autópsia inconclusiva
A autópsia ao corpo da menina não identificou uma causa direta para a morte, pelo que o tribunal aguarda resultados toxicológicos adicionais, ao sangue, urina e tecidos, para determinar o que desencadeou a falência respiratória da criança.
O processo encontra-se a cargo do Tribunal de Instrução número 5 de Alzira, que continua a apurar responsabilidades.
