Meta e Pinterest fazem doações secretas à família de Molly, morta aos 14 anos devido a conteúdos online
A Meta e o Pinterest terão feito doações à Molly Rose Foundation, uma instituição criada para fazer campanha pela segurança na Internet depois da morte da adolescente britânica Molly Russell, de 14 anos, que se suicidou em novembro de 2017 devido aos "efeitos negativos dos conteúdos vistos na Internet".
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Na tentativa de compreender a morte da adolescente, que sofria de depressão, os familiares descobriram que tinha sido exposta nas redes sociais, principalmente no Instagram e no Pinterest, a inúmeros conteúdos que evocavam suicídio, depressão e automutilação. O inquérito sobre a sua morte descobriu que, das 16.300 publicações que Molly guardou, partilhou ou "gostou" no Instagram no período de seis meses antes da sua morte, 2100 estavam relacionadas com esses temas.
Segundo as conclusões do processo judicial, divulgadas em 2022, os conteúdos vistos pela adolescente "não eram seguros e nunca deveriam ter sido acessíveis para uma menina", disse Andrew Walker, responsável pelo procedimento. Em vez de qualificar a sua morte como suicídio, considerou que a jovem "morreu em decorrência de um ato de automutilação, quando sofria de depressão e dos efeitos negativos dos conteúdos vistos na Internet". O funcionamento dos algoritmos das redes sociais, que tendem a oferecer aos utilizadores conteúdo similar ao que viram antes, "certamente teve um efeito negativo em Molly". Alguns dos conteúdos que viu eram "particularmente gráficos" e "normalizaram a sua condição", continuou o médico legista.
Walker escreveu posteriormente um relatório de "prevenção de mortes futuras", que foi enviado às empresas de redes sociais e ao governo do Reino Unido e apelou a uma revisão dos algoritmos utilizados pelos sites para fornecer conteúdo.
O último relatório anual da fundação refere-se a donativos recebidos de pessoas ou entidades que desejam permanecer anónimas, tendo os curadores concordado em respeitar o seu pedido. De acordo com a emissora britânica BBC, acredita-se que estes pagamentos têm sido feitos pelo Meta e pelo Pinterest desde 2024 e deverão continuar durante vários anos. Os detalhes dos valores alegadamente doados não foram divulgados. No entanto, sabe-se que a família Russell não recebeu qualquer dinheiro da doação.
“Após o inquérito do médico legista sobre a morte de Molly, decidimos que vamos perseguir os objetivos que partilhamos com a Meta e o Pinterest através da Molly Rose Foundation para ajudar a garantir que os jovens têm uma experiência positiva online em vez de procurar ações legais”, disse a família Russell, em comunicado. “Nós, a família da Molly, sempre deixámos claro que nunca aceitaríamos indemnizações pela morte da Molly”.
Jovens em risco de encontrar conteúdo prejudicial
As doações relatadas ocorrem numa altura em que as empresas de redes sociais enfrentam cada vez mais críticas sobre o impacto das plataformas online na saúde mental das crianças. Em janeiro, como parte de mudanças radicais nas suas políticas, o responsável da Meta, Mark Zuckerberg, disse que a empresa eliminaria os verificadores de factos para impulsionar a liberdade de expressão e reduzir a “censura” e dependeria dos utilizadores para denunciar o conteúdo. Nessa altura, a Fundação Molly Rose alertou que as alterações da Meta poderiam colocar os jovens em maior risco de encontrar conteúdo prejudicial online.
A fundação lançou campanhas a pedir ao governo que reforce a Lei de Segurança Online e coloque mais responsabilidade nas empresas tecnológicas pelo conteúdo promovido através de algoritmos. Segundo a BBC, a instituição de solidariedade recrutou um CEO, dois gestores de políticas públicas, um responsável de comunicação e um gestor de angariação de fundos nos últimos nove meses.
Ian Russell, pai de Molly, continua a ser um administrador não remunerado da fundação e um importante ativista da segurança na Internet.